quinta-feira, 6 de julho de 2017

Era de esperar!


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O Facebook começou em 4 de Fevereiro de 2004, mas inicialmente destinava-se apenas a estudantes de diversas universidades, tornando-se público apenas em Setembro de 2006.


Era essencialmente o maior repositório de fotografias da Internet.


Mas o que fez a rede crescer na realidade, foi a inclusão de jogos. Jogos como o Farmville, lançado pela Zynga em 2009. Era um jogo simples em que o utilizador geria uma quinta e executava tarefas de agricultor, comprando lotes de terreno, semeando, colhendo para receber créditos, comprando animais e coisas que tais. Acontece que para semear era necessário ter créditos para comprar as sementes, e a sementeira demorava um tempo variável a crescer para poder ser colhida.


No entanto esse tempo poderia ser diminuído se os vizinhos do agricultor (outros jogadores) executassem determinadas acções sobre essa sementeira. Isto obrigava a um trabalho árduo e a ter vizinhos participativos. Assim nasceram os “espertos” do Facebook! Como dar a volta ao problema?


Criavam-se perfis falsos! Um utilizador com cinquenta perfis falsos, no Facebook (logo no Farmville), conseguia reduzir o tempo para a colheita, praticamente para zero em muito pouco tempo (com a ajuda desse falsos vizinhos. Mas isto dava um trabalhão e obrigava a muitos operações de entrar e sair do Facebook.


Outra vez os espertos, criaram aplicações que faziam estas tarefas automaticamente, bastando programa-las inicialmente e elas encarregavam-se do resto, entravam, semeavam, colhiam… E o Face tornou-se a pouco e pouco a rede social dos espertos e dos perfis falsos.


Mas o Mark Zuckerberg não se queixou. A rede crescia exponencialmente graças aos “espertos”, inundada de perfis falsos e de automatismos, e os lucros também.


Para aumentar ainda mais a sua aceitação a rede foi sendo alterada para permitir que as pessoas menos avisadas, expusessem a sua vida privada e deste modo a rede podesse direccionar a publicidade para os perfis mais apetecíveis.


Daí não viria grande mal ao mundo se não fossem os “espertos” , que como na vida real se dividem em “espertinhos” e “espertalhões”.


Os “espertinhos” não são perigosos, ao passo que os “espertalhões” são o lixo das redes sociais. São gatunos, traficantes, pedófilos, tarados, engatatões e por aí fora. Aos “espertalhões” juntaram-se políticos, e para que estes e os seus partidos ganhassem votos, nasceram as empresas especializadas na criação e gestão de “Trolls”, mais perfis falsos “fazedores de opinião”, pela divulgação de mentiras ou de verdades descontextualizadas que prejudicassem possíveis opositores.


Os gatunos passaram a saber quando os alvos potenciais estão de férias, para onde vão e por quanto tempo, os amigos que levam consigo, os anéis que têm nos dedos, as jóias que passeiam ao pescoço, se vão para a praia no próximo fim-de-semana, informação essa muito útil para quem lhes pretende arrombar a porta.


Os traficantes, facilmente identificam os adolescentes e pré-adolescentes que pela sua postura “mijam fora do penico” e adoram experimentar coisas “novas”, enquanto os pedófilos apreciam os filhos e filhas menores que pais e mães babadas, publicitam sem nenhum pudor, mostrando as fotografias da escola ou do infantário, com tudo bem escarrapachado para melhor identificação.


Mas aqueles que mais aprecio e nutro a maior “simpatia”, são sem sombra de dúvida os “engatatões”! Esta “espécie” tem como único objectivo o engate, logo procuram entre as suas “amizades” quem serão os possíveis alvos (isto porque para se ser amigo de alguém nas redes sociais nem sequer é preciso conhecer-se o outro), e se entre estes não se tiver sucesso, passam a analisar as amizades dos amigos para se lhes pedir amizade, e depois as amizades das amizades dos amigos, que aceitaram ser seus amigos. E assim a possibilidade de “engate” cresce exponencialmente, tal como o número de utilizadores da rede.


Acontece que os “engatatões” desvirtuam o significado dos dois símbolos mais utilizados no Face, a mãozinha de dedo espetado – o LIKE (gostei), que para eles significa “és boa como o milho” e para os mais ordinários, “dava-te já uma”, e o coraçãozito vermelho – o ADOREI, como se fosse uma declaração de amor daquelas mais reles, juntando-lhe comentários cheios de segundas interpretações e intenções, ou enviando mensagens privadas ao possível alvo.


E o que é giro é que estes gajos têm sucesso e conseguem sempre apanhar quem se “põe a jeito” e brinca com a coisa, e quando dão por elas, estão enredadas na teia. Mas afinal cada um tem aquilo que merece – frase completamente estúpida, mas que aqui faz todo o sentido.


Era mesmo de esperar!


(António Amaral)

2019

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