O Facebook começou em 4 de Fevereiro de 2004, mas inicialmente
destinava-se apenas a estudantes de diversas universidades, tornando-se público
apenas em Setembro de 2006.
Era essencialmente o maior repositório de fotografias da
Internet.
Mas o que fez a rede crescer na realidade, foi a inclusão de
jogos. Jogos como o Farmville, lançado pela Zynga em 2009. Era um jogo
simples em que o utilizador geria uma quinta e executava tarefas de agricultor,
comprando lotes de terreno, semeando, colhendo para receber créditos, comprando
animais e coisas que tais. Acontece que para semear era necessário ter créditos
para comprar as sementes, e a sementeira demorava um tempo variável a crescer
para poder ser colhida.
No entanto esse tempo poderia ser diminuído se os vizinhos do
agricultor (outros jogadores) executassem determinadas acções sobre essa
sementeira. Isto obrigava a um trabalho árduo e a ter vizinhos participativos. Assim
nasceram os “espertos” do Facebook! Como dar a volta ao problema?
Criavam-se perfis falsos! Um utilizador com cinquenta perfis
falsos, no Facebook (logo no Farmville), conseguia reduzir o tempo para a
colheita, praticamente para zero em muito pouco tempo (com a ajuda desse falsos
vizinhos. Mas isto dava um trabalhão e obrigava a muitos operações de entrar e
sair do Facebook.
Outra vez os espertos, criaram aplicações que faziam estas
tarefas automaticamente, bastando programa-las inicialmente e elas encarregavam-se
do resto, entravam, semeavam, colhiam… E o Face tornou-se a pouco e pouco a
rede social dos espertos e dos perfis falsos.
Mas o Mark Zuckerberg não se queixou. A rede crescia
exponencialmente graças aos “espertos”, inundada de perfis falsos e de
automatismos, e os lucros também.
Para aumentar ainda mais a sua
aceitação a rede foi sendo alterada para permitir que as pessoas menos
avisadas, expusessem a sua vida privada e deste modo a rede podesse direccionar a
publicidade para os perfis mais apetecíveis.
Daí não viria grande mal ao mundo
se não fossem os “espertos” , que como na vida real se dividem em “espertinhos”
e “espertalhões”.
Os “espertinhos” não são
perigosos, ao passo que os “espertalhões” são o lixo das redes sociais. São gatunos,
traficantes, pedófilos, tarados, engatatões e por aí fora. Aos “espertalhões”
juntaram-se políticos, e para que estes e os seus partidos ganhassem votos,
nasceram as empresas especializadas na criação e gestão de “Trolls”, mais
perfis falsos “fazedores de opinião”, pela divulgação de mentiras ou de
verdades descontextualizadas que prejudicassem possíveis opositores.
Os gatunos passaram a saber
quando os alvos potenciais estão de férias, para onde vão e por quanto tempo, os
amigos que levam consigo, os anéis que têm nos dedos, as jóias que passeiam ao
pescoço, se vão para a praia no próximo fim-de-semana, informação essa muito
útil para quem lhes pretende arrombar a porta.
Os traficantes, facilmente identificam
os adolescentes e pré-adolescentes que pela sua postura “mijam fora do penico”
e adoram experimentar coisas “novas”, enquanto os pedófilos apreciam os filhos
e filhas menores que pais e mães babadas, publicitam sem
nenhum pudor, mostrando as fotografias da escola ou do infantário, com tudo bem
escarrapachado para melhor identificação.
Mas aqueles que mais aprecio e
nutro a maior “simpatia”, são sem sombra de dúvida os “engatatões”! Esta “espécie”
tem como único objectivo o engate, logo procuram entre as suas “amizades” quem
serão os possíveis alvos (isto porque para se ser amigo de alguém nas redes
sociais nem sequer é preciso conhecer-se o outro), e se entre estes não se
tiver sucesso, passam a analisar as amizades dos amigos para se lhes pedir
amizade, e depois as amizades das amizades dos amigos, que aceitaram ser seus
amigos. E assim a possibilidade de “engate” cresce exponencialmente, tal como o
número de utilizadores da rede.
Acontece que os “engatatões”
desvirtuam o significado dos dois símbolos mais utilizados no Face, a mãozinha
de dedo espetado – o LIKE (gostei), que para eles significa “és boa como o
milho” e para os mais ordinários, “dava-te já uma”, e o coraçãozito vermelho –
o ADOREI, como se fosse uma declaração de amor daquelas mais reles, juntando-lhe
comentários cheios de segundas interpretações e intenções, ou enviando mensagens privadas ao possível alvo.
E o que é giro é que estes gajos
têm sucesso e conseguem sempre apanhar quem se “põe a jeito” e brinca com a
coisa, e quando dão por elas, estão enredadas na teia. Mas afinal cada um tem
aquilo que merece – frase completamente estúpida, mas que aqui faz todo o
sentido.
Era mesmo de esperar!
(António Amaral)
2019
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