Os "Dias" (para esquecer?)

DIA DE S. VALENTIM - DIA DOS NAMORADOS

14 de Fevereiro, dia para se ser namorado, porque assim deve ser, muito terno, muito atinado, certinho na prenda que oferecer. Porquê, pergunto eu, porque tenho de me fazer de parvo, fingir o que não sinto, inventar um sentimento?

E lá vou eu muito «ternurento», com a garrafa de vinho embrulhada, para ver se no vapor me esqueço e, se ela se põe mais a jeito, sem que para isso tenha que me esbardalhar. Quantos hipócritas o farão hoje, para cumprir a tradição. Rosas, orquídeas, perfumes, anéis, gargantilhas, colares, brilhantes, mil diamantes, mais flores, champanhes franceses e outros menos burgueses, e quem sabe, porque não jantar todo nu?

Depois os lençóis que não se sujavam há meses, vão tentar amarrotar, tudo à pressa, toca a despachar que amanhã ainda é dia de irmos todos trabalhar. Cumprida que foi a tarefa, talvez haja um «amo-te» dito sem jeito, para que se não julgue que foi obrigação e que não agradecemos ou não nos fez proveito.

Cambada… apenas uma e enorme fantochada. Tenham coragem, ignorem a data, não façam nada que vos violente (sim, tens razão, esta malta não sabe o que é ter carácter, esqueci-me disso, peço perdão por vos ofender, não era minha intensão).

Dia de São Valentim. Quem era? Santo, marido, corno, enfim!

E eu? Que vou fazer?

Apenas dizer que te amo, apenas isso.

Porquê? Porque todos os dias te namoro, todos os dias lês o que sabes que despertas em mim, para que não o esqueças, para que o sintas como se fosse a primeira vez, para que te arrepies, porque sabes que sou louco, doido varrido, aquele que é capaz de te fazer rir quando te apetece apenas chorar, que te abana quando menos esperas, que te oferece uma flor por nada, que te devolve recordações, pedaços de ti que perdeste ou deixaste para trás.

Porquê? Porque sabes que é verdade e te surpreendo com simplicidades, com banalidades, que nada significariam noutro contexto. Porque namoro os teus olhos, porque namoro as tuas mãos, porque namoro a curva da tua cintura, porque namoro os sapatos que calças, porque namoro o teu andar.

Sim, não o digas porque sei que sou. Sou tudo o que estás a pensar, e outro tanto que ainda não sabes, porque ainda não inventei essa parte de mim. Sim é verdade, todos os dias me invento e reinvento, mudo, transformo-me, quebro-me, remendo-me, para que não te fartes, para que seja diferente sempre, sem rotinas, sem monotonias, sem certezas, e planto-me no meio das tuas liberdades, aí bem no meio, onde me regas, onde me fazes crescer, onde me sinto mais homem e te faço sentir mais mulher.

Sim, estou sempre ao teu lado, mesmo quando não me vês, em silêncio, respeitando o teu, apenas enquanto quiseres, porque as tuas asas são o que mais admiro em ti.

Sim, amigo São Valentim, podes ir-te embora descansado, não me fazes nenhuma falta. Vai, vai fazer o que muito bem sabes… Vai ajudar essa malta!

(15.02.2012)




Hoje é o teu dia, MULHER.

É o dia em que os homens se calam,
Se transformam e te admiram,
Te apoiam,
Te mimam,
Te animam,
Dizendo que és pura,
A sua estrela,
A sua força,
A sua outra metade,
Aquela que lhes faltava
Para crescer.
Hoje é o teu dia, MULHER,
Cheio daquele amor
Que anseias sentir todo o ano,
Que se te escapa nas horas,
Que perdes em cada momento.
Hoje é o teu dia, MULHER,
Na flor recebida,
Na carta mais sentida,
Na solidão que se apaga,
Na cor do teu batom,
Na festa,
Na carícia que encontraste.

Mas hoje não me apetece escrever versos, não me apetece comemorar, não me apetece ver o vermelho da rosa, nem o rubro das faces. Hoje apetece-me GENERALIZAR.

Isso mesmo, apetece-me fazer aquilo que odeio. Apetece-me estender a todas as mulheres o meu grito, dizer que são todas iguais, mesmo iguaizinhas sem tirar nem pôr. Hoje apetece-me dizer que a diferença é muito pouca, hoje que é o teu dia, ou no amanhã que não tardará a chegar.

E como me apetece vou GENERALIZAR.

As MULHERES são todas umas «CABRAS», convencidas (e não me estou a queixar), que sorriem para as que têm a seu lado, enaltecem a sua beleza, o seu andar, a sua leveza, o corte de cabelo, o rasgar dos olhos, o namorado que escolheram, e por dentro estão a remoer, a mastigar o ódio, a invejar a qualidade, a inventar todos os defeitos, pensando para si - «Como estás feia e gorda, mesmo estúpida a gabar-se, não deves ver-te ao espelho, minha anormal vestida de senhora. Senhora? Com esses modos vais fazer corar o homem mais ordinário que encontrares. Desaparece, já estou farta desse teu sorriso imbecil…».

Eu sei, sei muito bem que me estou a arriscar, estou mesmo a pedir que me tratem, a mim que sou homem, como se fosse MULHER. Avaliei todos os riscos, escondi-me, acho que hoje nem vou trabalhar, porque se o fizer nem sei o que me vai acontecer.

Mas tudo o que escrevi é muito «SENTIDO» e «SINCERO» e espero que me perdoem um dia, se puderem, se quiserem e eu ainda estiver vivo e a mexer.

Hoje é o teu dia, MULHER,

Aproveita-o bem,
Sem me bater.

(08.03.2013)



Estava a ver que não me via livre do dia 8, e da sua comemoração, e embora não retire uma única palavra ao que disse, já me sinto mais liberto e à vontade, para escrever sobre as mulheres.

Adoro mulheres, pelo que representam de singeleza, de fragilidade, de força, de vontade, de capacidade de dar, de amar, de se entregar, de sofrer, de criar, dar vida, educar.

Adoro as mulheres, porque me ajudam, me animam, me abanam, me amam, me seduzem, me alegram, me comovem, me completam. Adoro-as porque conseguem que lhes dê, exactamente o mesmo que me dão, tornando os meus dias mais felizes, mais calmos, ou arrasando-os completamente.

As mulheres são um animal estranho, com um pensamento sinuoso, cheio de porquês, pouco objectivo, difícil de acompanhar pelo raciocínio, porque tantas vezes parecem irracionais nas suas decisões.

As mulheres podem ser doces, meigas, compreensivas, mas também se transformam em verdadeiras feras, prontas a devorar qualquer um, como se fossem predadoras implacáveis. As mulheres são a obra-prima da natureza, mas quase sempre mal avaliadas, desprezadas, perseguidas, espezinhadas. O século XXI não veio mudar nada, mesmo nada. Continuam na mesma, ainda em muitos lugares, violadas por homens sem escrúpulos, agredidas, assassinadas como se fossem animais no matadouro, sem compaixão e sem justiça.

Uma mulher, para mim, é uma taça de cristal, que admiro pela sua beleza, pelo seu brilho, pela sua fragilidade, pelo seu interior, pela sua capacidade de ser muito melhor do que eu. Admiro e respeito. Respeito mesmo quando grito, quando me enfureço, quando a raiva me tolda todos os sentidos, porque para além de tudo, muito mais importante que os problemas, estou perante um ser que venero. Sou incapaz de fazer mal a uma mulher.

As mulheres são as minhas musas, os meus modelos, as minhas amigas, as minhas namoradas, os meus amores, as minhas paixões, mas mesmo quando não o são, perdem em algum momento esse estatuto.

Claro que têm defeitos, manias, são perversas na vingança, muitas vezes mesquinhas, traiçoeiras, mas nada disto lhes diminui a beleza e o mistério.

Mas para mim, as mulheres são isto tudo todos os dias do ano. Não preciso de um dia para me relembrar, porque gosto de dar uma rosa quando me apetece, de comemorar quando acho que devo, surpreender quando me agrada. Se não tiver essa liberdade, se não me sentir invadido por essa loucura da verdadeira homenagem, tudo me parece falso, construído à força, sem sentido.

Por isso ontem escrevi o que escrevi, por isso ontem disse o que disse.

Sei que o entendeste, sei que sabes que assim é, desde sempre e, que assim continuará a ser. Sabes porque me conheces, sabes porque confias, sabes porque o sentes, sabes porque aprendeste a acreditar.

Sabes bem que é assim, mesmo sem precisar nunca de o dizer.

Sabes porque TE ADORO, MULHER.

Sabes não sabes? Porque és única, porque és especial, porque és a primeira, a segunda, a terceira… és diferente, és tu.

(09.03.2013)


Dia do Pai

Hoje é dia do Pai,
E o meu filho mais novo
Acordou-me com os desenhos
Que fez para me oferecer,
Tal como eu fazia
Enquanto filho fui,
Filho sem vontade,
Pequeno como o meu,
Quando obediente
Sim… respondia.

Depois cresci,
Também me tornei naquilo
Que era para mim:
Pai, senhor, educador…

Deixei de o ver assim,
Tornou-se homem fraco,
Com os defeitos que eu tinha,
Teimosos e casmurros,
Dos choques fizemos
Rotina,
No dia-a-dia.
Tudo o que eu fazia
Estava mal.
Tudo o que ele dizia
Não me servia.
Assim calámos sempre
O que se devia,
O que não eram diferenças,
E do amor esquecemos
A raça,

Deixámos acabar o tempo.
Um dia morreu,
Sem avisar, sem me dizer
Que o ia fazer,
Porque o «sacana»
Era mesmo assim.
Foi-se embora
E deixou-me o remorso
Das coisas caladas,
Das vergonhas, das verdades
Veladas,
Dos silêncios sempre o sabor.
Por isso hoje desenho
Esta folha com duas palavras:


«AMO-TE PAI»



Ano Novo

Pouco passa das dez e cinquenta, 
Atravesso a noite, 
Bebo café na Rua da Prata, 
Avanço calmamente 
Rumando o rio pouco distante, 
Este ano está perto do fim, 
Com tanto que dele 
Guardo,
Porque vivi. 

Chego à grande praça, 
As luzes, o palco, 
O rio depois, 
A música bem alta, 
A alegria de tudo 
O que permanecia. 

Vagueio por entre os demais, 
Primeiros espaçados, 
Depois, 
Mais perto, chegados, 
Nos abraços, 
Nos beijos, 
Em eternos acariciares. 
Parei bem perto, 
Ouvi uma… e outra… 
Esqueci, atacou a saudade, 
A solidão de quem está só, 
No meio de tanta Comemoração. 

Revi tudo o que temos, 
Que é bom, 
A vontade de estar, 
Mesmo tão longe 
De quem se quer ter 
Por perto, 
Do desejo desperto, 
Do abraçar apertado, 
Do sonho, do acordar… 

Senti o vazio, 
Aquele frio que nos invade, 
O arrepio a chegar, 
A eterna vontade 
De quem sabe 
O que é esperar. 
Passou o ano, 
O fogo que se queimou 
Naquele rio, 
O abanar… 

Ficou a saudade 
De te encontrar 


01.01.2013

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