Era
uma vez um deserto, porque é assim que começam todas as boas histórias de
Natal, com excepção das escritas pelo Mário Amorim. Mas esta, precisava do “era
uma vez”, para parecer credível, porque não fala do Pai Natal, nem do presépio,
nem de prendas, e a única ligação que tem a esta quadra é falar de camelos (mas
não os confundam com os camelos dos Reis Magos). Voltemos ao princípio.
Era
uma vez um deserto, e nesse deserto haviam dois oásis. Um deles era habitado
por camelos, e o outro por dromedários.
Para
quem não sabe, os dromedários são camelos ressabiados. E são-no, porque um
dromedário é um camelo incompleto, tem um defeito, apenas uma marreca, e um
camelo só com uma marreca não chega a ser um camelo. Mas os dromedários são
muito espertos e passam a vida a enganar os camelos, sendo os mais matreiros
apelidados de “mãozinhas de porco”.
Estes
últimos têm um único sonho, chegarem um dia a camelos!
Junto
do oásis dos camelos, crescia um cacto que os alimentava com os seus figos de
alta qualidade. Um belo dia, um camelo branco, tomou conta do oásis e caiu na
asneira de chamar um “mãozinhas de porco” para tomar conta do cacto.
Não
sabemos se foi por estar “deslocalizado”, mas o dromedário ressabiado, queria
beber a água que existia no interior do cacto, mesmo ficando com as beiças
todas infectadas das picadas dos espinhos. Tanto fossou, que alguns figos
soltaram-se e foram levados pelo vento para longe. Mesmo assim, esperto como
era, convenceu o camelo branco, que estava a proteger o oásis, e este para
recompensá-lo, promoveu-o a camelo, colando-lhe uma marreca de um camelo morto.
Porém
a cola não era boa, e a bossa só se aguentou dois dias até cair, o que o
obrigou a voltar para o oásis dos dromedários, como não podia deixar de ser.
Entretanto
o camelo branco foi corrido por um camelo castanho, que virou tudo do avesso, e
que ficou a saber pelos figos que o vento tinha arrastado para longe, que junto
a um outro oásis, existia um cacto muito maior que dava três vezes mais figos,
e que iria mudar de sítio por causa dos tuaregues. O camelo castanho pensou (e
bem), que seria bom trazer o cacto maior para junto do mais pequeno,
concentrando a produção de figos, e até quem sabe, vir a criar uma herdade de
cactos.
Esqueceu-se
foi da lábia do dromedário “mãozinhas de porco”, que começou a bater o pé e a
fazer uma birra que também tinha direito a ter um cacto, que o iria colocar no
lugar de uma tenda que tinha ardido, mesmo no meio do oásis.
Os
dromedários ficaram tão maravilhados com a ideia que se esqueceram de varrer as
cinzas da tenda queimada e o cacto grande resolveu escolher outro lugar.
Os
dromedários ficaram ainda mais ressabiados e a reclamar que queriam ter um
cacto e o camelo castanho prometeu-lhes o cacto pequenino.
Mas
os espinhos do cacto pequenino tinham crescido mais, estavam mais encostados
uns aos outros e espetaram-se nas beiças dos camelos e noutro órgão dos
dromedários.
Agora
andam todos a correr as farmácias, na esperança de encontrarem uma pomada que
diminua a comichão com que ficaram.
Nota: Qualquer semelhança entre os
camelos e os dromedários desta história e o lobo do Capuchinho Vermelho ou os
sete anões da Branca de Neve, são pura coincidência.
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