quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Outra história de Natal, curta e ressabiada





Era uma vez um deserto, porque é assim que começam todas as boas histórias de Natal, com excepção das escritas pelo Mário Amorim. Mas esta, precisava do “era uma vez”, para parecer credível, porque não fala do Pai Natal, nem do presépio, nem de prendas, e a única ligação que tem a esta quadra é falar de camelos (mas não os confundam com os camelos dos Reis Magos). Voltemos ao princípio.

Era uma vez um deserto, e nesse deserto haviam dois oásis. Um deles era habitado por camelos, e o outro por dromedários.

Para quem não sabe, os dromedários são camelos ressabiados. E são-no, porque um dromedário é um camelo incompleto, tem um defeito, apenas uma marreca, e um camelo só com uma marreca não chega a ser um camelo. Mas os dromedários são muito espertos e passam a vida a enganar os camelos, sendo os mais matreiros apelidados de “mãozinhas de porco”.

Estes últimos têm um único sonho, chegarem um dia a camelos!

Junto do oásis dos camelos, crescia um cacto que os alimentava com os seus figos de alta qualidade. Um belo dia, um camelo branco, tomou conta do oásis e caiu na asneira de chamar um “mãozinhas de porco” para tomar conta do cacto.

Não sabemos se foi por estar “deslocalizado”, mas o dromedário ressabiado, queria beber a água que existia no interior do cacto, mesmo ficando com as beiças todas infectadas das picadas dos espinhos. Tanto fossou, que alguns figos soltaram-se e foram levados pelo vento para longe. Mesmo assim, esperto como era, convenceu o camelo branco, que estava a proteger o oásis, e este para recompensá-lo, promoveu-o a camelo, colando-lhe uma marreca de um camelo morto.

Porém a cola não era boa, e a bossa só se aguentou dois dias até cair, o que o obrigou a voltar para o oásis dos dromedários, como não podia deixar de ser.

Entretanto o camelo branco foi corrido por um camelo castanho, que virou tudo do avesso, e que ficou a saber pelos figos que o vento tinha arrastado para longe, que junto a um outro oásis, existia um cacto muito maior que dava três vezes mais figos, e que iria mudar de sítio por causa dos tuaregues. O camelo castanho pensou (e bem), que seria bom trazer o cacto maior para junto do mais pequeno, concentrando a produção de figos, e até quem sabe, vir a criar uma herdade de cactos.

Esqueceu-se foi da lábia do dromedário “mãozinhas de porco”, que começou a bater o pé e a fazer uma birra que também tinha direito a ter um cacto, que o iria colocar no lugar de uma tenda que tinha ardido, mesmo no meio do oásis.

Os dromedários ficaram tão maravilhados com a ideia que se esqueceram de varrer as cinzas da tenda queimada e o cacto grande resolveu escolher outro lugar.

Os dromedários ficaram ainda mais ressabiados e a reclamar que queriam ter um cacto e o camelo castanho prometeu-lhes o cacto pequenino.

Mas os espinhos do cacto pequenino tinham crescido mais, estavam mais encostados uns aos outros e espetaram-se nas beiças dos camelos e noutro órgão dos dromedários.

Agora andam todos a correr as farmácias, na esperança de encontrarem uma pomada que diminua a comichão com que ficaram.

Nota: Qualquer semelhança entre os camelos e os dromedários desta história e o lobo do Capuchinho Vermelho ou os sete anões da Branca de Neve, são pura coincidência.

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