quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Carta aberta de um cão ao dono





É verdade que sou o teu melhor amigo, que sempre estive e estarei ao teu lado, mesmo quando te comportas como um verdadeiro animal (e sou sempre eu que pago), mas a paciência tem limites (a minha paciência), e confesso, que ultimamente tenho reprimido a vontade de te morder as canelas. Porquê?

Mas que descaramento o teu! Não sabes mesmo?!

Qual é a tua ideia de me quereres agora levar para os restaurantes? Só podes ter perdido o juízo de vez!

Acontece que tu, quando lá entras e ficas a cheirar a fritos, a óleo requentado, a caril de gambas e outras coisas piores, tomas banho quando chegas a casa, a roupinha vai para a máquina e perfumas a casa toda com um daqueles sprays ambientadores que compras nos chineses, para te libertares dos maus odores que se agarraram a ti, mas eu não posso fazer o mesmo.

Não dá para despir a “roupinha”, porque a minha “roupinha” não se “descola”, nem posso tomar banho, porque não me deixas tomar banho em casa. Eu sei que “sacudo” os meus quarenta quilos de pelo comprido e deixo tudo a escorrer à minha volta, mas mesmo assim gostava de tomar banho mais vezes, e as cadelas minhas amigas adoram ver-me chegar a cheirar a água de colónia.

Mas como andas sempre com a cabeça enfiada no Google e leste um artigo que dizia que eu só deveria tomar banho de seis em seis meses para não estragar o meu lindo pelo, só me mandas esporadicamente àquela senhora, que está uma hora comigo debaixo do chuveiro, que me seca, que me escova e perfuma.

Por isso é que não quero entrar contigo nos restaurantes, não quero ficar a cheirar a peixe frito nem a omelete de gambas, não quero ter de ouvir perguntas do tipo – “morde?”, nem ser confundido com um pitbull ou com um rotweiller, nem ser pisado pelo empregado ou por algum cliente mais distraído.

Da última vez que me levaste ao “Mac”, andei quase uma semana mal dos intestinos. Acho que o molho do hambúrguer estava estragado ou as batatas fritas vinham ensopadas em óleo contaminado.

Não te percebo, proibiram-me de andar a correr nas praias (e isso eu adoro fazer) e até de escavar aqueles buracos enormes, onde eu enterrava os copos de plástico e as garrafas vazias que encontrava, e agora queres que eu vá contigo ao restaurante?

Vai mas é rasgar a petição que assinaste na semana passada.



O teu cão

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