Estou farto de ouvir falar de
incêndios, de árvores ardidas, casas destruídas, gente que fica sem nada,
outros que morreram, de quem ajuda, da Europa ingrata, de aviões, de
helicópteros, de ver vídeos amadores a mostram as chamas, de quem oferece água,
de quem se arrisca para os dominar e ganha uma miséria, dos que nem ganham
nada, dos negócios, do governo, dos governantes, da Assembleia da República, de
tantas coisas que já estou a cheirar o fumo, e a sentir o calor da fogueira.
Podem dizer à vontade o que estão
a pensar, que chegou um imbecil para dizer mal das pessoas, que
confortavelmente sentadas em suas casas (tal como eu estou agora), publicam
notícias e mais notícias, batem palmas a opiniões que nem são suas, propagam
boatos e mais boatos, ateiam outros incêndios na cabeças de pessoas sem
espírito crítico, e logo à noitinha, deitam a cabeça na almofada e adormecem
como bebés, para amanhã, depois de retemperadas as forças, voltarem à carga.
Há poucos dias, li um artigo
sobre um livro, escrito por uma portuguesa, onde se tenta explicar que tipo de
gente são os portugueses, e as conclusões de três ou quatro anos de
investigação, não são muito abonatórias para este povo de que faço parte.
Claro que li também muitos
comentários a insultá-la, porque um dos nossos principais defeitos, é essa
incapacidade total para ouvir críticas, para meter a mão na consciência, olhar
para o espelho, e admitir – “realmente eu sou mesmo assim. Vou tentar fazer
qualquer coisa para me tornar melhor, e largar pelo menos um destes vícios.”.
É que os portugueses são tipos de
“brandos costumes”, no pior que esta expressão possa significar, são uns
acomodados que só gritam e barafustam nos campos de futebol, normalmente contra
o árbitro (o elo mais fraco), que ficam sempre à espera que “a coisa se resolva
sozinha”, ou por obra e graça do espírito santo, que a maior parte das vezes
nem está disponível porque tem muitas coisas para fazer.
Os portugueses nem reclamar
sabem, quase sempre se dispersam quando o fazem, aceitando a primeira solução
em que nem sequer tinham pensado, e que normalmente os prejudica em vez de
compensar.
Falamos todos de corrupção,
quando afinal somos um povo corrupto por natureza e educação, tentamos fugir
aos impostos em vez de os ver como um dever cívico, com a desculpa de “se todos
o fazem, porque não posso fazer também”. E este é um exemplo “fraquinho” da
mentalidade portuguesa.
Mas afinal quem tem a culpa de
que Portugal “arda” todos os anos e cada vez mais? E não é que temos todos! Temos
culpa de nos esquecermos dos fogos logo em Outubro, quando começa a chover.
Pois nessa altura o que interessa é o futebol! Para o ano, lá para Julho,
voltamos a reclamar e, alguns a bater palmas aos bombeiros.
Têm culpa, os governantes e os
governos que não fixam cotas para o eucalipto, ou não as fazem cumprir (e o
eucalipto é bom, mesmo muito bom para atear fogueiras), têm culpa os
proprietários ou usufrutuários da floresta, que querem lá saber de limpar o
mato que cresce por entre as árvores, ou de deixar caminhos de espaço a espaço,
para que os carros dos bombeiros possam circular, e nem constroem torres de
vigia para que o alarme possa ser dado o mais cedo possível e os incêndios não
assumam as proporções assustadoras a que já estamos habituados, têm culpa os
tribunais que não punem devidamente os incendiários, têm culpa as autoridades
florestais que permitem que se despeje todo o tipo de “lixos” à beira das
estradas, o que ajuda o Sol a contribuir para o flagelo, tem culpa os
automobilistas fumadores, que se desfazem das pontas de cigarro, acesas, sem se
preocupar com o que pode acontecer.
Mas os incêndios em Portugal, não
se extinguem com água, extinguem-se com iniciativa, com persistência, com a
força que todos temos se nos unirmos e não desistirmos até vermos “coisa feita”.
Chateiem os deputados da
Assembleia da República, inundem-lhes as caixas de correio de reclamações,
invadam os ministérios com petições, com manifestações. Obriguem as televisões
a tomar o partido de quem sente na pele o calor dos incêndios, denunciem os
incendiários, obriguem os tribunais a fazer justiça, vigiem as matas,
pressionem os donos para que limpem a floresta, sejam PESSOAS, ACORDEM,
MEXAM-SE!
E eu o que estou a fazer? Ainda
não perceberam? Estou aqui a insultar-vos, a ferir o vosso amor-próprio, a
dizer-vos para pensarem pela vossa cabeça e se encherem de brios.
Mas que merda esta!
#2227
2 comentários:
Extraordinariamente verdadeiro!
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