sábado, 6 de agosto de 2016

Um tabuleiro cheio de história



Passaram muitos anos, vinte e tal, trinta talvez, que a minha irmã chegou da antiga União Soviética, onde tinha ido, e que me ofereceu as peças de um jogo de xadrez, típico e uma matrioska. As peças são incomuns, porque as brancas são pintadas de vermelho deixando zonas em que a madeira envernizada surge, enquanto as pretas obedecem ao mesmo critério, sendo pretas na parte superior e o resto seja apenas madeira envernizada.

As peças são bastante grandes, e as suas bases redondas forradas a feltro, têm um diâmetro que obriga à utilização de um tabuleiro de maiores dimensões. Na altura, estavam esgotados na U.R.S.S., e por isso fiquei com um jogo de xadrez sem tabuleiro onde jogasse.

Durante estes anos todos, fui pensando como o faria, mas a sua concretização foi sendo sucessivamente adiada, umas vezes por falta de tempo, outras porque o dinheiro que teria que gastar nos materiais (embora não fosse muito), era necessário para responder a outras necessidades.

As peças foram ficando, guardadas numa velha lata de Whiskey que já se tinha despedido há muito da garrafa que guardava anteriormente.

No mês passado, estava a dar volta a umas coisas que tinha dentro de uma caixa grande, encontrei a lata e lembrei-me do que continha. Abri-a e tirei as peças. Medi o diâmetro das bases e calculei o tamanho de cada quadrado de um tabuleiro que as comportasse. Dei uma margem de segurança para que tivesse uma cercadura e tomei nota do comprimento do lado do quadrado que precisava.

Fui a uma loja (de que não vou dizer o nome para não fazer publicidade) e comprei madeira, tintas e pincéis, mais uma chapa de vidro acrílico próprio para utilizar sobre quadros ou fotografias.



Em casa, desenhei os quadrados e os limites da cercadura. Nesse dia não fiz mais nada. Já era bastante para trinta anos de espera.

No dia seguinte, quando voltei do trabalho, comecei a isolar os quadrados que ia pintar, com uma fita de papel própria para estas tarefas.

Quando terminei, cheguei à conclusão que apenas tinha conseguido isolar metade dos quadrados, de uma das cores, porque a fita cobria os restantes. Deste modo, precisava de efectuar quatro operações iguais, para pintar a outra metade da mesma cor (mais uma), e as duas metades da outra cor (mais duas isoladelas e respectiva pintura). Como demorei muito tempo a isolar tudo, para ficar certo e sem falhas, arrumei as coisas porque “Afinal amanhã também é dia!”.

Daí para a frente, foi pintar, esperar seis horas no mínimo, para secar bem, pintar outra vez e esperar (três demãos em casa meia cor), tirar a fita, isolar mais metade dos quadrados, repetir tudo outra vez.

As pinturas demoraram mais ou menos uma semana, e depois foi preciso corrigir pequenos defeitos que fui encontrando, o que ainda atrasou a sua conclusão, mais alguns dias.


Então tirei a protecção do acrílico (um plástico que traz colado dos dois lados para evitar que se risque) e coloquei-o sobre o tabuleiro. Só faltava a moldura, que já tinha cortada e pronta, feita com um perfil em “L” preto e que colei e aparafusei ao tabuleiro. A parte de baixo foi forrada com feltro vermelho, para que a madeira não entrasse em contacto com os tampos das mesas onde fosse colocado.

Agora só me faltava uma caixa para guardar as peças, enquanto não estivessem a ser utilizadas, porque a lata velha não me parecia bem.

Comprei uma caixa já feita, de tampa arrendada, numa casa de bricolage e foi só pintar de acordo com os mesmos padrões de cor.




Finalmente, o meu jogo de xadrez, tem um tabuleiro e uma caixa à sua altura. Estava a ver que não.


#2225

1 comentário:

Maria disse...

Uma beleza...!
O rigor, a técnica, materiais e imaginação.
Tabuleiro,
Pegadas,
Marcas,
Esperas,
Saltos
E
Corridas...
Vida!

Parabéns António!