quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O-Diálogo-dos-Silêncios



Está ali,
Na ave prostrada, morta no chão,
No homem que bateu a porta e não mais voltou,
Em cada gota do mais denso nevoeiro,
Na folha seca no meio da floresta,
Na gazela atravessada na boca do leão.

Está ali,
Na mão que afaga a cabeça da criança,
Nas pernas encaixadas no beijo do amante,
Nas mãos dadas do casal de namorados,
Nos olhares que se penetram em cada cumplicidade,
No movimento ritmado das mãos do mudo,
Na palavra que se gritou e ninguém escutou.

Está ali,
O-Diálogo-dos-Silêncios,
A queixa,
A desculpa,
A razão.

Está ali,
Quando os olhos se penetram
E enxergam,
Na viagem que nem todos sabem fazer,
Tão difícil perceber,
Na química não contrariada,
Na flor que um dia de sol ofereci,
Nas sombras ondulantes de cada pinhal,
No momento não contrariado…
E vivido!

(António Amaral)



# 2241

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