Os-perigos-da-raça-amarela

Quando era puto, faz mais de cinquenta anos, li um livro com este nome. Era uma grande merda, mas no tempo da “outra-senhora” e após o fim de uma guerra onde os “amarelos” tinham ameaçado a Europa e os Estados Unidos, fazia todo o sentido.

E aqui estou eu, agora, em pleno século XXI, no auge do desenvolvimento tecnológico, das liberdades (mas pouco), das comunidades económicas, da solidariedade (onde?), a trazer à baila este assunto. E porquê? Porque é mesmo preciso ter cuidado com a raça amarela, é preciso estar atento a”os-perigos-da-raça-amarela”.

Mas desde já quero esclarecer um ponto muito importante, não estou a falar de Chineses ou de Japoneses! Não senhor, nada disso… estou a falar daqueles tipos vestidos com T-shirts amarelas, cheias de frases bombásticas e cartazes a condizer. 

E também estou a falar daqueles tipos (e organizações) proprietários/as das escolas, que embora não se pintem de amarelo (para passarem despercebidos), fazem parte da mesma raça, sendo ainda mais perigosos, disfarçados e escondidos na sombra dos corredores do poder, a espalhar vómito envenenado por tudo quanto é lugar.

São perigosos porque são manipuladores, utilizam a falácia e a mentira como argumentos, querem fazer valer direitos, que acentuam as desigualdades, apregoando um pretenso ataque à sua “liberdade individual”. São perigosos porque têm o apoio de destacadas figuras da igreja, supostamente acima de qualquer suspeita, e que vêm para a rua defender os “dinheiritos” que vão perder nas “negociatas” das suas próprias escolas.

São perigosos porque deviam ficar calados e não ficam, porque deviam ficar quietos e não ficam, porque deveriam envergonhar-se, mas não se envergonham, porque deviam gastar energias noutras lutas, mas não gastam, porque deviam assumir as suas responsabilidades, mas não assumem.

São perigosos porque a imprensa continua a ser dominada e manipulada por tipos “da-raça-amarela”, as televisões vestem-se com T-shirts da mesma cor e fazem um alarida enorme a defender o que é justamente indefensável.

E a merda continua, porque o que interessa é tentar minar o partido do governo, desestabilizar a coligação que o apoia, enquanto os seus deputados europeus trabalham afincadamente nas instâncias internacionais para criar as maiores dificuldades a Portugal, obrigando a que sejam tomadas medidas impopulares para vencer a crise, que empresários e especuladores esperam que se agudize.

Será que os portugueses são assim tão estúpidos?!

Faz algum sentido manter subsídios a escolas privadas que ficam ao pé de escolas públicas com turmas vazias e professores com horários zero, só porque o anterior governo assinou um contracto a três anos, quando devia estar em gestão? Mas isso era uma coisa em que o anterior governo sempre foi especialista. Varrer o lixo para debaixo do tapete. Quem vier depois que feche a porta. 

Admirados? Eu não! O que poderia esperar de gente desta, não é que eu goste dos que lá estão agora, mas entre os dois não tenho dúvidas.

Tenham vergonha na cara, deixem de tentar enganar quem paga impostos! 

Eu também tenho direito de escolha e o governo não tem nada que limitar as minhas liberdades. Escolhi ir morar para Cascais, para uma vivenda de quinze assoalhadas e oito casas de banho, com vista para o mar e um jardim de três hectares, e como a habitação pública não tem oferta que me satisfaça, já tenho uma empresa privada disposta a alugar-me uma se o estado pagar. É que a qualidade de vida é outra, tem piscina, garagem para cinco carros, elevador, churrasco no jardim, painéis solares e traz um mordomo incluído no preço da renda bem como uma capela com capacidade para sessenta pessoas. Além disso, tenho uma escola privada a vinte metros, com um acordo de associação e piscina olímpica, onde o meu filho pode acabar o 10º ano e os dois que faltam, e já me asseguraram que com as notas que vai ter, entra na universidade pública sem problemas, passando à frente dos abortos da escola pública. E tudo isto sem gastar um tostão da minha algibeira, tudo isto porque me vou “filiar” na raça amarela.

(António Amaral)