quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Não, não há!


Duas e meia da madrugada, mais uma noite em que teimo em ficar acordado até altas horas, enquanto satisfaço este vício de escrever, diário, tantas vezes cansativo, outras tantas doloroso, com as saudades a espetarem as suas farpas, nas recordações de amores, de vidas, de momentos vividos, adiados, perdidos, de esperas, de encontros e desencontros, de prazeres, de paixões, de olhos que me olharam, de risos que se escutaram, de músicas que se dançaram.

Está calor, apesar da hora, porque o tempo é de estio, está calor na sala, debaixo das minhas mãos, saindo por entre as teclas, soprando-me os dedos. Há pouco estive debruçado na janela aberta, mas a brisa era pouca ou quase nada. Não deu para refrescar.

Mas da minha janela vi as árvores, vi as árvores por cima, como se fosse enormes bóias a flutuar, presas ao fundo por uma corrente, baloiçando levemente, embaladas pelas ondas de um mar invisível, sem espuma, sem sal. Enquanto balançam, as sombras que delas desciam, passeavam por sobre os passeios, os carros parados, chocando com os pés dos candeeiros que as iluminavam. Ninguém.

Olhei os prédios em redor. Centenas de janelas apagadas, vidros negros nas fechadas, cortinas negras nas que se abriam para a noite. Descanso, sonhos, no sono que se adivinhava atrás de cada parede pintada de noite escura. Não vi a Lua, mas também poucas vezes a vejo, acho até que se esconde de mim, tem medo que eu no seu silêncio, consiga ler todas as mentiras que sempre conta.

E então...

Não sei se existirá outra maneira de dizer isto, suavemente ou num rompante, não sei como o fazer de outra maneira, porque é a única que conheço, é a única que me ocorre, onde a verdade vale mais que tudo, mesmo que magoe, mesmo que fira, dura como sempre é.

Amo-te, apesar de tudo, de tudo mesmo, amo as cumplicidades que construímos com tanto carinho, com tantas dores, entre conversas loucas, nos silêncios em que apenas os olhos falavam, nas mãos dadas, no olhar as estrelas, nos passeios à chuva, nas poças de água pisadas, nos brilhos, nas súbitas mudanças de humor, nas discussões, nas brigas, nas pazes construídas na confiança de um olhar.

Amo-te nos momentos que foram momentos, nos que poderiam ter sido e nos que se esfumaram, na voz que me embalava, no abraço, aquele enorme abraço que sempre tivemos e em que um pequeno quadradinho de chão, chegava para arrumar os nossos pés, nas promessas, nos sonhos que eram só meus.

Como é que o posso dizer? Haverá outra maneira?

Não, não há! Amo-te APESAR DE TUDO!

#972


2 comentários:

Sofia Valadares disse...

Gostei do que li: da forma como expressou os sentimentos e pensamentos verdadeiros que vagueiam pela mente; são sentidos pelo coração. Parabéns!

Eu não sou ninguém disse...

Obrigado Sofia.

Para quem não sabe, ou me visita pela primeira vez, sou um provocador compulsivo, de tal maneira que até a mim provoco.

A agressividade quando se responde a uma provocação torna as pessoas sinceras e verdadeiras, mostrando quase sempre o eu que teimam em esconder.

Obrigado pela visita, volte sempre, tenho o maior prazer que o faça.