Um louco amor... que tanto durou!


(Recordo aqui a minha mulher, que tanto me deu, tanto me respeitou, tanto me amou, durante tantos anos, e que um dia morreu. Recordo-a com a saudade de quem perdeu um enorme bocado de si. Obrigado Helena).

Já vivia com a Helena há uns dois anos e ninguém no nosso emprego sabia que andávamos juntos, era um segredo que mantínhamos só para aumentar a sensualidade dos encontros que planeávamos, e embora entrássemos à mesma hora, chegávamos sempre separados e mal nos falávamos todo o dia. Trocávamos bilhetes furtivos porque não havia computadores, nem SMS, beijávamo-nos às escondidas pelos corredores, roçando os corpos sempre que havia uma oportunidade.

Era Verão, o filho dela estava a passar férias com o pai e, os meus estavam com a mãe. Combinámos ir à praia quando saíssemos às quatro da tarde. Fui buscar o carro e apanhei-a um quarteirão mais abaixo. Arrancámos e começámos com as nossas brincadeiras habituais. Chegou a um ponto em que já não tinha mãos para guiar, nem pés para pôr nos pedais e o risco de correr mal já se estava a tornar muito grande. Parei o carro, saímos, olhei em volta, uma paragem de autocarro e estava um a chegar, de dois andares.

Entrámos e fomos lá para cima. Só um passageiro no andar superior. Ocupámos o último banco. Veio o «pica-bilhetes», paguei até ao fim da linha (sabia lá onde era). O homem desceu e ficámos quase sós, com o nosso «vizinho» lá mais para a frente.

A coisa aqueceu depressa, muito depressa, e quando dei por mim, já as cuecas de renda dela estavam a repousar dentro da mala. O nosso vizinho olhou para trás alertado pelo reboliço, mas o que viu fez com que desistisse de olhar outra vez… naquela altura havia uma certa «decência». Saiu umas paragens mais adiante, e nós fomos sozinhos até ao fim.

Saímos meio afogueados, estávamos no Alto de Santo Amaro. Demos uma volta por ali a pé, esperámos que o nosso autocarro partisse e apanhámos o que chegou depois, para voltar. E a cena repetiu-se, agora com mais calma, para ignorarmos o fim. Quando chegámos à praia só já tivemos meia hora de Sol. E ainda bem.

Ficámos deitados na areia esperando a escuridão e o fresco da noite. Uma hora depois estávamos completamente sozinhos e o biquíni e o meu fato de banho estavam a causar algum transtorno. Não sei como, mas de um momento para o outro esse transtorno desapareceu.

Já tudo se misturava, corpos, areia, conchas, mãos, bocas a cuspir cabelos, toalhas completamente amarfanhadas, algas. Não, assim não dava. Levantámo-nos e de mãos dadas corremos para o mar que estava chão, quase sem ondas, na maré baixa. O frio da água provocou-me um arrepio, mas aumentou a sensualidade. Abraçámo-nos, acariciámo-nos, beijámo-nos, nem parecia que a água quase nos chegava á boca. Esquecemos tudo, onde estávamos, como estávamos, a água, o frio, as ondas, porque já nos tínhamos tornado num único corpo, num único desejo, num único prazer. Não era preciso dizer nada, só queríamos sentir, aproveitar.

E foi isso que aconteceu, num arrepio enorme, num estremecer ainda maior, que a água salgada não conseguiu apagar, porque tudo estava quente à nossa volta, como se o mar nos tivesse dado uma trégua para que pudéssemos acabar de nos ter.

Voltámos para casa. Veio todo o caminho enroscada no meu pescoço, com a cabeça apoiada no meu ombro.



3 comentários:

Anónimo disse...

Maravilhosa história de amor, esta que marcou a tua vida .VV

Anónimo disse...

Não há palavras para comentar! Belíssima, nobre e emotiva homenagem à Mulher da tua vida... Helena!

DD

Unknown disse...

Maravilhosa e comovente esta sua história de vida
Amei...