(Recordo aqui a minha mulher, que tanto me deu, tanto me respeitou, tanto me amou, durante tantos anos, e que um dia morreu. Recordo-a com a saudade de quem perdeu um enorme bocado de si. Obrigado Helena).
Já vivia com a Helena há uns dois anos e ninguém no nosso
emprego sabia que andávamos juntos, era um segredo que mantínhamos só para
aumentar a sensualidade dos encontros que planeávamos, e embora entrássemos à
mesma hora, chegávamos sempre separados e mal nos falávamos todo o dia.
Trocávamos bilhetes furtivos porque não havia computadores, nem SMS,
beijávamo-nos às escondidas pelos corredores, roçando os corpos sempre que
havia uma oportunidade.
Era Verão, o filho dela estava a passar férias com o pai e,
os meus estavam com a mãe. Combinámos ir à praia quando saíssemos às quatro da
tarde. Fui buscar o carro e apanhei-a um quarteirão mais abaixo. Arrancámos e
começámos com as nossas brincadeiras habituais. Chegou a um ponto em que já não
tinha mãos para guiar, nem pés para pôr nos pedais e o risco de correr mal já
se estava a tornar muito grande. Parei o carro, saímos, olhei em volta, uma
paragem de autocarro e estava um a chegar, de dois andares.
Entrámos e fomos lá para cima. Só um passageiro no andar
superior. Ocupámos o último banco. Veio o «pica-bilhetes», paguei até ao fim da
linha (sabia lá onde era). O homem desceu e ficámos quase sós, com o nosso
«vizinho» lá mais para a frente.
A coisa aqueceu depressa, muito depressa, e quando dei por
mim, já as cuecas de renda dela estavam a repousar dentro da mala. O nosso
vizinho olhou para trás alertado pelo reboliço, mas o que viu fez com que
desistisse de olhar outra vez… naquela altura havia uma certa «decência». Saiu
umas paragens mais adiante, e nós fomos sozinhos até ao fim.
Saímos meio afogueados, estávamos no Alto de Santo Amaro.
Demos uma volta por ali a pé, esperámos que o nosso autocarro partisse e
apanhámos o que chegou depois, para voltar. E a cena repetiu-se, agora com mais
calma, para ignorarmos o fim. Quando chegámos à praia só já tivemos meia hora
de Sol. E ainda bem.
Ficámos deitados na areia esperando a escuridão e o fresco
da noite. Uma hora depois estávamos completamente sozinhos e o biquíni e o meu
fato de banho estavam a causar algum transtorno. Não sei como, mas de um
momento para o outro esse transtorno desapareceu.
Já tudo se misturava, corpos, areia, conchas, mãos, bocas a
cuspir cabelos, toalhas completamente amarfanhadas, algas. Não, assim não dava.
Levantámo-nos e de mãos dadas corremos para o mar que estava chão, quase sem
ondas, na maré baixa. O frio da água provocou-me um arrepio, mas aumentou a
sensualidade. Abraçámo-nos, acariciámo-nos, beijámo-nos, nem parecia que a água
quase nos chegava á boca. Esquecemos tudo, onde estávamos, como estávamos, a
água, o frio, as ondas, porque já nos tínhamos tornado num único corpo, num
único desejo, num único prazer. Não era preciso dizer nada, só queríamos
sentir, aproveitar.
E foi isso que aconteceu, num arrepio enorme, num estremecer
ainda maior, que a água salgada não conseguiu apagar, porque tudo estava quente
à nossa volta, como se o mar nos tivesse dado uma trégua para que pudéssemos
acabar de nos ter.
Voltámos para casa. Veio todo o caminho enroscada no meu
pescoço, com a cabeça apoiada no meu ombro.
3 comentários:
Maravilhosa história de amor, esta que marcou a tua vida .VV
Não há palavras para comentar! Belíssima, nobre e emotiva homenagem à Mulher da tua vida... Helena!
DD
Maravilhosa e comovente esta sua história de vida
Amei...
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