Duas e meia da madrugada, mais
uma noite em que teimo em ficar acordado até altas horas, enquanto satisfaço
este vício de escrever, diário, tantas vezes cansativo, outras tantas doloroso,
com as saudades a espetarem as suas farpas, nas recordações de amores, de
vidas, de momentos vividos, adiados, perdidos, de esperas, de encontros e
desencontros, de prazeres, de paixões, de olhos que me olharam, de risos que se
escutaram, de músicas que se dançaram.
Está calor, apesar da hora,
porque o tempo é de estio, está calor na sala, debaixo das minhas mãos, saindo
por entre as teclas, soprando-me os dedos. Há pouco estive debruçado na janela
aberta, mas a brisa era pouca ou quase nada. Não deu para refrescar.
Mas da minha janela vi as
árvores, vi as árvores por cima, como se fosse enormes bóias a flutuar, presas
ao fundo por uma corrente, baloiçando levemente, embaladas pelas ondas de um
mar invisível, sem espuma, sem sal. Enquanto balançam, as sombras que delas
desciam, passeavam por sobre os passeios, os carros parados, chocando com os
pés dos candeeiros que as iluminavam. Ninguém.
Olhei os prédios em redor. Centenas
de janelas apagadas, vidros negros nas fechadas, cortinas negras nas que se
abriam para a noite. Descanso, sonhos, no sono que se adivinhava atrás de cada
parede pintada de noite escura. Não vi a Lua, mas também poucas vezes a vejo,
acho até que se esconde de mim, tem medo que eu no seu silêncio, consiga ler
todas as mentiras que sempre conta.
E então...
Não sei se existirá outra maneira
de dizer isto, suavemente ou num rompante, não sei como o fazer de outra
maneira, porque é a única que conheço, é a única que me ocorre, onde a verdade
vale mais que tudo, mesmo que magoe, mesmo que fira, dura como sempre é.
Amo-te, apesar de tudo, de tudo
mesmo, amo as cumplicidades que construímos com tanto carinho, com tantas
dores, entre conversas loucas, nos silêncios em que apenas os olhos falavam,
nas mãos dadas, no olhar as estrelas, nos passeios à chuva, nas poças de água
pisadas, nos brilhos, nas súbitas mudanças de humor, nas discussões, nas
brigas, nas pazes construídas na confiança de um olhar.
Amo-te nos momentos que foram
momentos, nos que poderiam ter sido e nos que se esfumaram, na voz que me
embalava, no abraço, aquele enorme abraço que sempre tivemos e em que um
pequeno quadradinho de chão, chegava para arrumar os nossos pés, nas promessas,
nos sonhos que eram só meus.
Como é que o posso dizer? Haverá
outra maneira?
Não, não há! Amo-te APESAR DE
TUDO!
#972
#972
2 comentários:
Gostei do que li: da forma como expressou os sentimentos e pensamentos verdadeiros que vagueiam pela mente; são sentidos pelo coração. Parabéns!
Obrigado Sofia.
Para quem não sabe, ou me visita pela primeira vez, sou um provocador compulsivo, de tal maneira que até a mim provoco.
A agressividade quando se responde a uma provocação torna as pessoas sinceras e verdadeiras, mostrando quase sempre o eu que teimam em esconder.
Obrigado pela visita, volte sempre, tenho o maior prazer que o faça.
Enviar um comentário