A savana protegia os seus guerreiros, nunca os esquecia, vivia com eles, sabia o que cada um valia, nas suas fraquezas, nos seus medos, nas suas loucuras, em cada contradição, nas suas forças, em cada fúria, no meio de cada batalha, em todas as vitórias ou derrotas.
Sabia que nenhum dos seus guerreiros desistiria, nenhum hesitaria em defender as suas leis, os seus segredos, sem desertar, sem se poupar a esforços, sacrifício após sacrifício, pedra a pedra, em cada gota de água do charco, barrento e malcheiroso.
As hienas tinham sentido na pele, a sua própria fúria, enfrentando derrotas impensáveis, de opositores impensáveis, de tempos adversos, de segundos parados pelo sol. As hienas tinham desistido, não percebiam os mistérios, não respeitavam as leias que a savana ditava, não conheciam a força de quem enfrentavam. Até os troncos mortos, ocos, espalhados pela terra calcada pelo calor de pés que não se ouviam, eram armadilhas mortíferas, incontornáveis, impiedosas.
O casal de Lobos Negros continuava ali. Quase sempre pareciam estátuas de granito, contrastando com a planície acastanhada de tanta aridez, juntos, como se tivessem sido esculpidos numa única pedra, como se tivessem nascido de um único tronco, inseparáveis, ombro a ombro, numa igualdade construída que os unia.
E nessas cumplicidades caçavam, como se fossem apenas um, na única sombra que o sol deles projectava, em danças perfeitas, na elegância de cada passo, na sincronização do salto, no abraçar da presa, na morte que os renascia, na mesa partilhada na sombra da pedra escura que os acolhia.
E nessa união enfrentavam os medos que ambos sentiam, ajudavam-se nas fraquezas, fortaleciam-se em cada improbabilidade que os desafiava, mesmo nas dúvidas de cada incerteza.
A savana protegia. A savana amava. E a força passava para quem nela acreditava. Os seus guerreiros acreditavam, conheciam cada mistério, faziam magia que com ela se confundia.
A savana, tal como o Lobo, tal como a Loba e a gazela que ninguém via, não desertavam, nunca desertariam, defendendo-se, defendendo-a, eternizando cada momento, escrevendo a sua história, a estória de cada um.
#2034
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