quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tenho espelhos nos olhos


Vidros, são vidros diferentes, mesmo nada transparentes, mas parecem mesmo não sendo, são reflexos, são imagens, tantas fugidias, que assomam e logo desaparecem, que te mostram, que te ocultam, que te fazem a multiplicar se no paralelo se encontram, que te levam ao infinito, que te desmentem, que te confirmam, onde te consegues olhar; as luzes ganham vida, projectam-se, fogem-nos, ofuscam-nos, nascem do seu interior vazio, simetricamente.

São os espelhos, essa maravilha prateada; são deveras importantes, tão importantes que alguns até falam, falam com a bruxa má que se interroga, dizem de sua justiça, uma justiça que cá fora não existe, porque cá fora a menina boa e linda é a bruxa que ainda quer ser mais linda e muito menos boa.

Bem-vindos ao mundo dos espelhos. Ao meu mundo dos espelhos.

Neste meu mundo, existem centenas, milhares de espelhos, espelhos que guardam imagens de momentos, momentos com caras, com corpos, com sentires, espelhos que guardam sons, conversas, melodias entoadas por grandes orquestras, ou apenas sons de passos, dos passos que dançam na minha cabeça.

Neste meu mundo, existem espelhos verdadeiros, tão verdadeiros que mostram das pessoas o que realmente são, sem máscaras, sem outros brilhos, umas cinzentas, outras vermelhas, outras ainda azúis; tão verdadeiros que me escondem quando diante deles passo, para que neles não me veja, para que me não revele, para que não me encare, porque sabem que não quero saber.

Neste meu mundo, existem espelhos falsos, tão falsos que mostram reflexos, reflexos de pessoas boas que não são boas, de pessoas lindas e sedutoras que não são lindas nem sedutoras, de máscaras que são caras, de caras que são máscaras, de armaduras de aço que afinal são de papel, de grandes tempestades que não passam de leves brisas, de verdades que se revelam traições, de rios e de mares que nos afogam na lama.

Neste meu mundo de espelhos é preciso muito cuidado; neste mundo um só homem pode parecer um exército, pode ser um exército, repetido até à exaustão, clonado, reafirmado em cada superfície que invisivelmente se duplica no seu interior; neste meu mundo podemos conhecer realidades que só existem de um lado do meu mundo, no outro lado, o lado que só o interior dos olhos vê, porque os seus segredos se escondem aí, bem fundo dentro de cada um que se olha nesses espelhos.

Neste meu mundo de espelhos encontrarás o avesso de TI, aquilo que ÉS e não o que GOSTARIAS de SER, porque essa parte de ti, que religiosamente defendes e apresentas a toda a gente, essa imagem de máscara e armadura reluzente, não aparecerá porque fica do lado de cá; e quem sabe, não te fará odiar o meu mundo de espelhos.

Neste meu mundo, tenho espelhos nos olhos.

Não gosta? 
Não entra!

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