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Continuo aqui a escrever sem me cansar.
Milhares de páginas,
Milhões de palavras,
As letras ignorarei, sei lá quantas,
Rimas, outras tantas em textos
Corridos, assuntos repartidos por aqui
Ou por aí.
Dois mil e doze, ano da graça,
Onde em nascimento me tornei
E cresci, escrevi a medo, devagar
Até crescer a força, o desafio, o olhar
Que me atravessou, fulminou vontades,
Moeu, enquanto as palavras se tornavam
Penas, rosas, açucenas, perfumes, cores,
Transformaram amores, povoaram
Espaços, juntaram olhares.
Em Março gritei,
Gritei bem alto, e a palavra órfã,
Sozinha ecoou, ficou
No ar, ali suspensa a balançar,
Como se peso não tivesse, nem
Sentimento valesse ou doesse…
Mas tinha, mas valia, mas doía!
Cheirou-me o “Anjo Salvador”, anónimo
Dos santos, a quem baptizei carinhosamente
De “Filho da Puta”, e de apelido “Cabrão Cobarde”,
Pelo que conseguiu, pela falsidade,
Pela semente que regou, pela faca, pela ferida,
Pelo sangue que chupou, feito
Vampiro, pela dentada que infectou.
O desespero redobrado, o sentimento
Espezinhado, a cumplicidade recusada,
A desconfiança instalada, fecundaram,
Emprenharam, enfruteceram
E o LOBO nasceu (RAIVOSO),
Tão raivoso que mordeu, mordeu
Em quem não queria,
E recebeu a lâmina de quem
Se defendia.
Igual não voltou a ser,
Mas o sonho, esse, ficara
Para crescer.
De altos e baixos se fez
A maré, de palavras se juntaram
Cumplicidades, de brilhos e luzes
Se construíram verdades,
Mãos que corriam,
Dedos que se cruzavam,
Silêncios que se cantavam.
Cheirou-se uma despedida que depois
Se fez dor, enterrada mas não esquecida,
Cantada, ouvida,
Guardada a preto e branco
Por criança que a segurava.
Cresceram palavras, avisos
Sem som, ignorados, revolta,
Violência, atropelos, sem verdades,
Sem tempos, esgotados os momentos
Em esperas, no avistar de miragens
Que se viam caminhar.
Mas de tudo surgiu arrependimento,
Confissões,
Muitos “obrigado”, agradecimentos
A quem não os esperaria, porque o que fizera
Novamente o faria, sem pedir,
Sem ser chamado, apenas porque queria,
Apenas por ser desejado, em sentidos
E saber revoltado.
Foi um ano, e depois uns anos
E até Natal, foi tudo o que se escreveu,
Tudo o que se sentiu, tudo o que se sofreu,
Tudo o que se viu, de mãos encontradas,
Unidas com ternura, nas frases arremessadas,
Em noites, pelos ares, voando com corujas,
Nos ventres de moscas, na pelagem
Daquele morcego.
Chegaram os silêncios, avivaram-se
Imagens, de outras palavras se construíram
Mil miragens, a provocação transformou-se
Em pão e, o pão fedeu!
Então, lamentavelmente a palavra surgiu,
Forte, afiada, arremessada e feriu.
Lamentavelmente gritei, o grito que me saiu,
E arrependimento, esse, ninguém o viu,
Nem se verá ou se achará. No sentir
Não há pecado, o muito querer a verdade
Dói em qualquer lado, mas a verdade é verdade,
E mesmo que doa, precisava de a dizer,
Prometido que sempre assim seria,
Na noite mais escura,
Ou no mais claro dia.
E da calma nasceu um furacão,
Uma tempestade que estoirou,
Roçou a acusação pouco educada,
A que mais perfura, que se instala
Na ferida sangrada e fica
Para sempre a queimar, a ferir,
Que se não vai, ferroada de abelha,
Dentada de tubarão que nos levou
O que de mais sagrado cada pedaço tem.
Não, não parei,
De ver o que já não queria,
De saber tudo o que já sabia,
De sentir o que me atormentava,
De escrever até na noite o dia
Nascer. E cheguei aqui,
Andando por outros caminhos,
Bebendo de outros vinhos
Também vermelhos, iguais à rosa
Alimentada por lágrimas choradas,
Por faces coradas,
Por promessas inacabadas.
As mãos não se tocam, mais,
Os abraços não se sentem, mais,
As palavras já não chegam, mais,
Os olhos já não se olham, mais,
Os silêncios já não se ouvem, mais,
As esperas já não se esperam, mais,
As noites já não amanhecem, mais,
Os dias já não anoitecem, mais,
Os versos já não se rimam, mais,
As palavras cada vez fogem, mais,
Os anos já não se contam, mais,
Tudo o resto é cada vez, demais.
Tudo o que é demais, É TEU!
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