sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vamos comer!


Torresmos, que petisco, mesmo que tenham aquele cheiro que tanta gente detesta. São bons de qualquer maneira, mas não duram, acabam rapidamente. Azeitonas, pretas, verdes, retalhadas, inteiras, com caroço ou sem, com ervas a boiar, engorduradas de azeite, ou apenas salgadas, como às mãos cheias.

Moelas, bem limpinhas, picantes, encarnadinhas, a queimar a boca e também depois de frias, com a sopinha de pão, ou a saladinha de orelha bem salteadinha. Sim “marcha” tudo o que me aparecer para “picar” e também gosto de fazer estes pratinhos malvados.

Sapateira cheia de ovas, tudo bem picado, com um molho de cerveja, pickles bem picadinhos, maionese, uns quadradinhos de tosta, um cubo de manteiga de alho, acompanhado com a “loira” Imperial, fresquinha.

Então e aqueles caracóis, a boiar no molho esverdeado de orégãos, com malagueta que baste para que piquem. Gosto quando são feitos em lume brando, para que fiquem todos de fora e me poupem o trabalho de usar o alfinete ou o palito. E os salpicos gordurosos no peito da camisa, e a cerveja, e os amigos…

E um fricassé de língua de vaca, ou um pé de porco, a dobrada com feijão branco, a mão de vaca com grão, com aquele molho grosso que pega ao céu-da-boca, o arroz de cabidela envinagrado, um bom cozido à portuguesa, cheio de hortaliça, de enchidos, as sardinhas assadas na brasa, o chouriço, a morcela, as alheiras e batatas fritas.

Tudo bem apaladado porque não gosto de comida que não sabe a nada e vinho tinto de uma boa colheita e às vezes verde.

Doces todos desde que sejam mesmo doces e, chocolate até o de culinária, e de fruta nem falo.

Sim, e já cá faltavas tu a reclamar. Tem calma, espera, cala-te, falas sempre antes do tempo, ainda não tinha acabado a lista dos petiscos, claro que não me ia esquecer, não achas? Que mania essa!

Nunca me esqueceria de dizer que és aperitivo, que adoro morder a tua orelha, a ponta do teu nariz, antes de comer, ou então beijar os teus olhos devagar e sussurrar ao teu ouvido. Depois também prato forte, que devoro bem quente, picante, temperado de surpresas, acompanhado de cumplicidades, misturado comigo no que sobra para ti. Está bem, eu sei que aí não reclamas, só pedes para repetir (como se fosse preciso pedir), e gemes, e saltas como uma corsa, e comes como se nunca tivesses comido, ris-te como se nunca tivesses sentido e dás-me como se nunca tivesses dado, temperas-me com o sal do teu pecado.



E também és sobremesa, na boca a saber a cereja, nos seios redondos que seguro nas mãos como dois pêssegos maduros, nos mamilos que cubro de chantilly, no morango que equilibro no teu umbigo.

O quê?! Estás parva?! Claro que não vou aqui dizer a que sabe o resto de TI, como o tempero, como o devoro, nem o que comi antes ou quero comer depois. Isso é só nosso, é uma receita secreta, construída a dois, provada a dois, aperfeiçoada sempre, reaprendida, mastigada e mordida, bem apurada, para hoje, para agora, para esta refeição, para comer com os olhos, com a boca, com as mãos, com os corpos, com o ….

Cala-te, já está pronto… Vamos comer!

2 comentários:

Brincando de poesia disse...

"... aperfeiçoada sempre, reaprendida, mastigada e mordida..."

Muito bom, gostei sr. provocador.

Eu não sou ninguém disse...

Beijo.