Torresmos, que petisco, mesmo que
tenham aquele cheiro que tanta gente detesta. São bons de qualquer maneira, mas
não duram, acabam rapidamente. Azeitonas, pretas, verdes, retalhadas, inteiras,
com caroço ou sem, com ervas a boiar, engorduradas de azeite, ou apenas
salgadas, como às mãos cheias.
Moelas, bem limpinhas, picantes,
encarnadinhas, a queimar a boca e também depois de frias, com a sopinha de pão,
ou a saladinha de orelha bem salteadinha. Sim “marcha” tudo o que me aparecer
para “picar” e também gosto de fazer estes pratinhos malvados.
Sapateira cheia de ovas, tudo bem
picado, com um molho de cerveja, pickles bem picadinhos, maionese, uns
quadradinhos de tosta, um cubo de manteiga de alho, acompanhado com a “loira”
Imperial, fresquinha.
Então e aqueles caracóis, a boiar
no molho esverdeado de orégãos, com malagueta que baste para que piquem. Gosto
quando são feitos em lume brando, para que fiquem todos de fora e me poupem o
trabalho de usar o alfinete ou o palito. E os salpicos gordurosos no peito da
camisa, e a cerveja, e os amigos…
E um fricassé de língua de vaca,
ou um pé de porco, a dobrada com feijão branco, a mão de vaca com grão, com
aquele molho grosso que pega ao céu-da-boca, o arroz de cabidela envinagrado,
um bom cozido à portuguesa, cheio de hortaliça, de enchidos, as sardinhas
assadas na brasa, o chouriço, a morcela, as alheiras e batatas fritas.
Tudo bem apaladado porque não
gosto de comida que não sabe a nada e vinho tinto de uma boa colheita e às
vezes verde.
Doces todos desde que sejam mesmo
doces e, chocolate até o de culinária, e de fruta nem falo.
Sim, e já cá faltavas tu a
reclamar. Tem calma, espera, cala-te, falas sempre antes do tempo, ainda não
tinha acabado a lista dos petiscos, claro que não me ia esquecer, não achas? Que
mania essa!
Nunca me esqueceria de dizer que
és aperitivo, que adoro morder a tua orelha, a ponta do teu nariz, antes de
comer, ou então beijar os teus olhos devagar e sussurrar ao teu ouvido. Depois também
prato forte, que devoro bem quente, picante, temperado de surpresas,
acompanhado de cumplicidades, misturado comigo no que sobra para ti. Está bem,
eu sei que aí não reclamas, só pedes para repetir (como se fosse preciso
pedir), e gemes, e saltas como uma corsa, e comes como se nunca tivesses
comido, ris-te como se nunca tivesses sentido e dás-me como se nunca tivesses dado,
temperas-me com o sal do teu pecado.
E também és sobremesa, na boca a
saber a cereja, nos seios redondos que seguro nas mãos como dois pêssegos
maduros, nos mamilos que cubro de chantilly, no morango que equilibro no teu
umbigo.
O quê?! Estás parva?! Claro que
não vou aqui dizer a que sabe o resto de TI, como o tempero, como o devoro, nem
o que comi antes ou quero comer depois. Isso é só nosso, é uma receita secreta,
construída a dois, provada a dois, aperfeiçoada sempre, reaprendida, mastigada e
mordida, bem apurada, para hoje, para agora, para esta refeição, para comer com
os olhos, com a boca, com as mãos, com os corpos, com o ….
Cala-te, já está pronto… Vamos
comer!
2 comentários:
"... aperfeiçoada sempre, reaprendida, mastigada e mordida..."
Muito bom, gostei sr. provocador.
Beijo.
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