Segredos, quem não tem segredos, quem se mostra por inteiro, quem é transparente como o vidro, quem é igual à imagem que se projecta no espelho? Ninguém.
Todos temos segredos, vários segredos, muitos segredos, uns pequeninos, leves e, outros enormes, assustadores, enterrados muito fundo em nós, nos mais inóspitos lugares, recalcados, recalcados, disfarçados para que não transpareçam, tentando afastar todas as suspeitas, todos os indícios.
Mas os teus segredos, o que não sei, o que desconheço, o que me foge, não passam de verdades corriqueiras para quem contigo os partilha e nem segredos são. Os segredos só o são para alguns, nunca para todos, e o seu tamanho depende de quem olha, de quem os viveu, das cumplicidades que os envolvem.
Os segredos fazem parte da nossa intimidade, os segredos não se contam, os segredos não se desvendam, os segredos não se mostram. Por isso são segredos. Só os parvos não têm segredos, ninguém sem segredos merece ser amado, ninguém se apaixona por alguém sem segredos, porque o não segredo é a negação da imaginação, da originalidade, do mistério que cada um de nós tem em si, e que o tornam apetecível, diferente, melhor quanto maior forem os segredos que encerra, porque os segredos não são obrigatoriamente coisas más, que nos envergonhem, mas apenas porque queremos que sejam segredos.
Se entregamos a alguém todos os nossos segredos morremos, perdemos a nossa identidade, o nosso brilho e ficamos brancos como a cal que se despeja sobre os ventres, que apenas queima (mas isso não é segredo). E quem recebe todos os nossos segredos morre, morre porque nós morremos ao entrega-los e ele morre de desgosto por conhecê-los sem sequer se ter esforçado por desvendá-los. Sim porque é diferente.
Os segredos devem ser procurados, investigados, lidos, imaginados, reconstruídos peça a peça, confrontados, discutidos, absorvidos e depois amados. Assim não faz mal conhecer os segredos de alguém, não nos foram entregues numa bandeja de prata com uma faca ao lado.
Quando quero entregar um dos meus segredos a alguém, não o conto, não o desvendo. Dou-lhe um bocadinho pequenino que coloco na minha mão, bem no meio da palma da minha mão, para que se sinta quando a apertam, quando a afagam, apenas um bocadinho, suficientemente misterioso.
Quem o recebe amá-lo-á desejando conhecê-lo para me poder amar mais, muito mais, e vai aprender a ler o que os olhos dizem, o que contam calados, apenas a olhar. Aí lerá mais um pouco do meu segredo, talvez o mapa que o irá guiar, depois de entrar, pelas cavernas escuras onde se escondem todos os meus segredos. Vai precisar de aprender a dar e a receber o que tenho, e com o que dou irá embrulhado o meu segredo, para que deixe de ser segredo e o aceite, ou não.
Se aceitar a recompensa será um beijo e outra cumplicidade.
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