Um amigo disse-me de si:
“Inexplicavelmente, de vinte e três anos de vida, apenas sobrou uma
fotografia tipo passe do seu último Bilhete de Identidade...”
E com o desabafo vinha uma
fotografia, tipo passe, já esbatida pelo tempo de viajar numa qualquer carteira
esquecida, arrumada no fundo de uma gaveta, daquelas que servem apenas para
guardar coisas velhas que desapareceram ou se esqueceram.
Inexplicavelmente era apenas uma
fotografia, a única fotografia, aquela que o fez escrever aquele desabafo que
começava por “Inexplicavelmente”.
Inexplicavelmente, porque talvez
seja como eu, que não guardo fotografias, que apenas as atiro para a gaveta
onde estão tantas outras, ou para aquela caixa de cartão velha e parda, que já
serviu para guardar sapatos de outros pés, e que agora, em momentos como os que recordou quando encontrou “Inexplicavelmente” aquela fotografia, o façam recuar
e voltar a sentir o que se passou naqueles olhos, naquela boca, na face que enxerga,
e que “Inexplicavelmente” ficaram presos no papel apagado, consumido pelo
tempo, escondidos ali.
Percebi deste desabafo que não
são precisas “fotografias”, que “Inexplicavelmente” fiquem no fundo das
gavetas, guardadas em caixas velhas de sapatos ou na dobra de um carteira
antiga que se perdeu algures e depois se achou, para recordar o fundo dos olhos
que sempre se leram, a boca que tanto se beijou, que percorreu o nosso corpo na
avidez do desejo, a face que acarinhámos com toda a ternura, o sorriso
escondido nos lábios que em silêncio nos contam todas as intimidades.
Percebi deste desabafo que não
são precisas “fotografias”, que “Inexplicavelmente” se encontram e se “reolham”,
para sentir a fina lâmina da saudade, porque a saudade volta “Inexplicavelmente”
sempre, quando se olham fotografias que “Inexplicavelmente” não precisavam
existir.
“Inexplicavelmente” senti porque
TU quiseste.
2 comentários:
Inexplicavelmente coisas acontecem e "desacontecem" em nossas Vidas... Assim... Inexplicavelmente :´)
Inexplicávelmente espero que tenhas gostado!
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