(imagem seleccionada por uma amiga, servindo de mote)
Dunas e mais dunas. Dunas a
perder de vista, amarelas, paradas, nuas. Nem um tronco, nem um galho, nem
sequer uma erva seca, apenas areia, toneladas de areia quente, muito quente. São
calotes enormes, redondas de um lado, lembrando seios de mulher, perfeitos,
enquanto do outro se recortam, como se uma enorme concha tivesse esgotado toda
a areia, deixando uma meia-lua côncava no seu lugar, dando a conhecer de onde
soprou o vento, durante a última tempestade.
Sucedem-se, arrumadas em xadrez,
até onde a vista alcança, fazendo lembrar as vagas alterosas de um mar que aqui
se pintou de amarelo sujo, que esqueceu a espuma e o seu azul. Apenas e só
areia, areia que invade a minha boca, que me seca a garganta, que se arruma em
cada pulmão e atapeta o estomago. Areia que me faz sentir uma enorme sede que
não consigo saciar.
Há muito que a água do meu cantil
acabou e, a sede me enfraquece, me consome debaixo daquele céu tão azul, onde
nem uma única nuvem ensombra o sol escaldante do deserto que atravesso. Os meus
pés já não sabem dar passos, abrem sulcos na areia, enquanto os arrasto
penosamente, sinto as pernas trôpegas e os joelhos dormentes recusam-se a
obedecer.
Estou perdido, irremediavelmente perdido.
Perdido de mim, perdido do mundo, perdido de Deus. Resta-me apenas andar, ou
pelo menos tentar e esperar. Esperar que a morte chegue. Então tropeço, os
joelhos fraquejam, as pernas não obedecem. Desmorono como um baralho de cartas,
dou por mim de gatas no chão. Fico assim a olhar o horizonte. Faz tanto tempo
que não descansava.
Subitamente tudo escurece, fica
negro. Sinto a brisa fresca de um jardim que à minha frente se abre, uma
clareira onde existem arbustos verdes e viçosos, bilhas de barro com água,
árvores ao longe. No meio de tudo estás TU, linda, com belos cabelos negros que
te escorrem pelas costas, descalça, envergando um esvoaçante vestido de seda
branca, amarrado pela cintura.
Eu sei que és uma miragem, mas TU
sempre foste uma miragem. Uma miragem que me ofereceste apenas para brincar,
uma miragem que de tão bela me seduziu, uma miragem por quem me apaixonei
loucamente, intensamente, dando tudo, não pedindo nada. Eu sei que és uma
miragem que nunca possuirei, a quem nunca abraçarei ou beijarei. Mas és tão
linda, Querida. Como te AMO ainda.
Sempre o soube e, só por isso me
tornei “soldado da fortuna”, vendi a minha alma ao diabo, tanta gente matei em
guerras que não eram minhas, só para fugir, só para esquecer, só para morrer. E
agora mercenário sozinho, com todos os meus companheiros mortos naquela
terrível emboscada, estou aqui, á tua mercê, AMOR de fumo, DEUSA imaculada a
que pertenço para sempre.
MATA-ME agora, sem piedade,
preciso libertar os meus olhos de TI.
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