domingo, 25 de agosto de 2013

O Tuaregue confiava....


Sobre o seu cavalo negro, de porte altivo, apenas mostrava os olhos, já que toda a cabeça o turbante azul envolvia. A mão direita segurava com firmeza a rédea de couro encerada, que ladeava a cabeça do seu alazão de pelo luzidio e sedoso, enquanto a esquerda se apoiava no punho da espada que da sua cintura pendia
.
Do pouco que se via, adivinhava-se a pele queimada, ressequida pelo sol implacável daquele deserto que atravessava. Era um Imuhagh (homem livre), um Tuaregue que mais uma vez enfrentava aquelas areias escaldantes que tão bem conhecia. Além da espada em forma de cruz, de alto punho trabalhado, onde a larga lâmina de dois gumes reluzia, do turbante azul que sempre envergava, protecção necessária contra o sol e os maus-olhados que lhe lançavam tantas vezes, além disso, só o seu cavalo negro.

O seu cavalo negro era o seu tesouro, o seu companheiro inseparável, o seu travesseiro, cobertor que o aquecia nas noites frias de um deserto onde o calor abrasa de dia. A água que transportava, a esse amigo inseparável pertencia, sempre mesmo quando a sede assomava, mesmo quando a garganta sabia a areia e a boca mal se abria.

Era a este amigo que tudo confessava, confessava porque acreditava, confessava porque confiava, porque sabia que nunca o trairia, nunca lhe faltaria. Sobre ele chorava, empapava-lhe o dorso, debruçado no seu pescoço, segredava-lhe ao ouvido todos os amores, todos os sonhos e, ele retribuía. Retribuía cavalgando para o horizonte que o Tuaregue avistava, para os amores que ele queria, enfrentava ventos, enormes tempestades, onde no meio da areia mal se via, e de noite mal dormia se algum perigo cheirava ou persentia.

O Tuaregue confiava porque sabia.

Sem comentários: