Sobre o seu cavalo negro, de
porte altivo, apenas mostrava os olhos, já que toda a cabeça o turbante azul
envolvia. A mão direita segurava com firmeza a rédea de couro encerada, que
ladeava a cabeça do seu alazão de pelo luzidio e sedoso, enquanto a esquerda se
apoiava no punho da espada que da sua cintura pendia
.
Do pouco que se via,
adivinhava-se a pele queimada, ressequida pelo sol implacável daquele deserto
que atravessava. Era um Imuhagh
(homem livre), um Tuaregue que mais uma vez enfrentava aquelas areias
escaldantes que tão bem conhecia. Além da espada em forma de cruz, de alto
punho trabalhado, onde a larga lâmina de dois gumes reluzia, do turbante azul
que sempre envergava, protecção necessária contra o sol e os maus-olhados que
lhe lançavam tantas vezes, além disso, só o seu cavalo negro.
O seu cavalo negro era o seu
tesouro, o seu companheiro inseparável, o seu travesseiro, cobertor que o
aquecia nas noites frias de um deserto onde o calor abrasa de dia. A água que
transportava, a esse amigo inseparável pertencia, sempre mesmo quando a sede
assomava, mesmo quando a garganta sabia a areia e a boca mal se abria.
Era a este amigo que tudo
confessava, confessava porque acreditava, confessava porque confiava, porque
sabia que nunca o trairia, nunca lhe faltaria. Sobre ele chorava, empapava-lhe
o dorso, debruçado no seu pescoço, segredava-lhe ao ouvido todos os amores,
todos os sonhos e, ele retribuía. Retribuía cavalgando para o horizonte que o
Tuaregue avistava, para os amores que ele queria, enfrentava ventos, enormes
tempestades, onde no meio da areia mal se via, e de noite mal dormia se algum
perigo cheirava ou persentia.
O Tuaregue confiava porque sabia.
Sem comentários:
Enviar um comentário