terça-feira, 13 de agosto de 2013

Morcegos como NÓS.


O morcego é o único mamífero que voa e ainda bem. Eu, pessoalmente não gostava nada de me cruzar com um elefante voador. Assim, e devido a esta característica, o morcego é um animal estranho porque afinal voa mas não tem asas. Os membros anteriores e os dedos enormes, unem-se por intermédio de uma membrana, e é com o auxílio destes “garfos” que consegue voar. E voa bem.

Dormem de-pernas-para-o-ar, embrulhados nas próprias “asas”, quase sempre durante o dia, escolhendo cavernas escuras e húmidas, pendurando-se nos tectos como se fossem peras, e não são cegos como se pensava, vendo até bastante bem. São tão estranhos, que contrariamente aos outros mamíferos, não têm cinco sentidos mas sim seis.

Os morcegos emitem ultra-sons, com o nariz ou com a boca, e recolhem os ecos dessas emissões, para conseguirem assim calcular distâncias, voar às escuras ou capturar insectos de que se alimentam, em pleno voo.

Eu sou um “morcego”.

De dia não produzo ou produzo pouco, prefiro a noite. Durante a noite consigo ver as realidades. Gosto de sombras e de como se misturam com as silhuetas meio iluminadas, com as penumbras, como se destroem as cores e se criam os silêncios. De dia vejo imagens lindas, sensuais, retocadas, repintadas, esculpidas, cheias de curvas, torneadas pelo cinzel do artista, mas o que vejo de dia são máscaras, armaduras que escondem os verdadeiros fantasmas, imagens falsas de nada.

De noite, a escuridão esconde pinturas, maquilhagens, silicones, roupas, cores, brilhos e tudo fica pardo, escondido, igual. Os silêncios ampliam os sons, o galho que se pisa, a folha que escorrega da árvore, a brisa que arrasta aquela bola de papel. Estes sons que a luz apaga, ouvem-se na escuridão, misturados com o bater das asas dos insectos, com o canto da cigarra e do grilo, com o piar da coruja, formando tantas melodias aterradoras para os desconhecidos.

De noite oiço, de noite cheiro, de noite toco, de noite apalpo, de noite cerro os olhos para ver melhor. De noite sinto os teus lábios, penetro a tua boca, encontro a tua língua onde me enrolo. Sinto os teus seios em cada mão, os mamilos, hirtos, que percorrem os intervalos dos meus dedos, a cintura que ondeia ao som da melodia que nos juntou, sinto os ventres que se procuram.

Sinto, e por maior que seja a escuridão, mesmo que os nossos olhos estejam fechados, mesmo que as vestes estejam amarrotadas e espalhadas pelo chão, os corpos estejam suados, cansados, enrugados, não existem máscaras, a maquilhagem esborratada misturada com o batom que os lábios lamberam de paixão, nada disto interessa, porque o que vemos é a verdade que de dia se esconde, e na noite cresce envolta nas “asas” de morcegos como nós. 

2 comentários:

Brincando de poesia disse...

Adorei!
Gostei muito disso: "De noite oiço, de noite cheiro, de noite toco, de noite apalpo, de noite cerro os olhos para ver melhor. De noite sinto os teus lábios, penetro a tua boca, encontro a tua língua onde me enrolo."

Eu não sou ninguém disse...

Obrigado.

Só podia ser assim... porque sou um morcego!