AVISO: Este texto contém linguagem que pode chocar as mentes mais conservadoras.
Gosto da noite. A noite
inspira-me, traz-me a calma que preciso para criar, envolve-me no desassossego
que agita a minha imaginação, abraça-me com as suas sombras, brilhos e gritos,
conta-me as histórias de grandes silêncios, recorda-me momentos que foram
grandes momentos, torna real cada sonho, entra-me pelos olhos, dá cor á minha
alma, faz-me sentir a saudade, essa companheira inseparável do poeta, do
escritor, do pintor.
Na penumbra da minha sala,
escutava a música que tocava baixinho no rádio, aquela coisa que se usava
quando não existia o paraíso da música “on-line”. Subitamente escutei uma
melodia que me despertou, que rebuscou as minhas lembranças. Estremeci. Linda,
como é linda a música e a mulher.
Levantei-me, fui procurar a
última carta, a carta das saudades, do não posso voltar para trás, do apesar de
tudo, quente como todas as outras, triste como tantas que recebi e escrevi.
Encontrei-a bem dobrada numa gaveta, esperando o momento de ser lembrada,
relida, chorada. Fui invadido pelas saudades que as paixões sempre deixam. Aquela
lâmina sabe bem o que fazer com o meu peito.
Dizia mais ou menos assim:
“Olá querido, como estás?
É bastante tarde, e ainda não dormi. Continuo a pensar em ti, muitas
vezes, constantemente. Tentei evitar, preciso evitar, não sei bem porquê.
Estou cansada, mas não vou dormir. Quero que saibas que sinto saudades
das canções, dos risos, das minhas parvoíces, do sexo. Quero que saibas que
ainda como aquela salada que me preparavas, entro tantas vezes naquele carro e
no nosso quarto de hotel. Sinto-me ainda naquele voo que não chegou ao seu
destino.
Estou em todas as imagens de olhos negros, escondida em cada palavra
que tento dizer, mesmo quando outra pronuncio. Dou gargalhadas que escondem a
minha tristeza, fingindo-me abatida quando o meu coração transborda. Continuo
aquela que te beijava antes de adormecer, que se APAIXONOU e contigo gozou em
tantas madrugadas, que te escreveu, que chorou e apoiou, para se aconchegar,
nos teus braços, sempre que o “tempo” ficava cinzento.
Quero que saibas que continuo a mesma pessoa e, por isso não é surpresa
para TI tudo o que digo. Claro que não! Sabes como mexeste comigo. Nada faz
sentido, mesmo fazendo TODO O SENTIDO. Parte de mim permanece fechada no que
ficou. Continuo a gostar de beijar a tua boca com os lábios pintados de
vermelho. Choro tantas vezes, enquanto me masturbo no banho pensando em nós.
Acho que por vergonha nunca te disse isto assim, mas vou fazê-lo agora,
não vou deixar fugir esta oportunidade. TU enlouquecias-me, era bom foder
contigo e fazer amor também. És “saboroso”, sabes ser um HOMEM, um grande
amigo, uma óptima PESSOA.
Por isso não te esqueço.
Dentro de mim pulsa uma miríade de sentimentos controversos, envolvidos
numa batalha feroz.
Para terminar, quero apenas acrescentar mais uma coisa – Obrigada por
existires, PROVOCADOR querido. Saudade…
Beijo.”
Fiz o “download” da música.
Continua a passar nos meus “headphones”.
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