Esperavas o quê?

PROVOCADOR, estão sempre a chamar-me, não há dias que não o façam, sempre. Porquê?

Porque se nota, porque é verdade, porque o faço sempre, compulsivamente, como se fosse a minha segunda pele, em cada minuto, sem dó nem piedade, sem descanso.

Mas provocar ensinou-me, provocar é uma arte, é viver sempre equilibrado não limite da escarpa, é brincar com lâminas afiadas que perderam os cabos, é não desviar os olhos, é encarar de frente, é desafio dentro de cada desafio, é medir-se, enfrentar-se, vencer-se, reinventar-se, é abnegação, é força, é derrotar o cansaço, é respeitar, respeitar as liberdades que não nos pertencem, é desafiar as nossas tornando-as maiores, é ser sempre o último, é ser sempre o primeiro.

Provocar é o que faço quando falo, em cada resposta, em cada frase, obrigando os rumos a trocarem-se, a percorrerem outros caminhos, a voltarem, a encontrarem-se, a desencontrarem-se.

Provocar é o que faço quando escrevo, no verso trocado, não rimado, insinuado, que se nega, que se afirma, ou na prosa, nas cores com que a pinto, nos cheiros que surgem das palavras mal lidas, dos sonhos que aparecem e se esfumam depois da vírgula que não devia estar ali, dos segredos adivinhados de quem me lerá, nas entrelinhas que só a mim pertencem.

Provocar é o que faço quando olho, quando fito os olhos e entro sem avisar, sem me fazer anunciar e percorro os caminhos escondidos do ser, do ter, do querer, do desejar.

Provocar é o que faço quando beijo, no húmido que instalo, no entreabrir dos lábios, na penetração da língua, no esgrimir, no afagar interior, no convidar a vir a entrar em mim, no morder do lábio quente, no cortar a respiração, no inalar do ar gasto pelos meus pulmões.

Provocar é o que faço quando afago, como se fosse algodão que se incendeia lentamente, ou como tenaz que aperta, aperta, circunda, viola, amachuca, quebra, acendendo os olhos, inundando os sentidos, ficando.

Provocar é o que faço quando fodo, como um menino inexperiente que não sabe por onde começar, desafiando o corpo, provocando pequenos calores que se juntam, provocando o prazer de aumentar o mistério, provocando desafios que se tornam enormes, provocar para mostrar, provocar para sentir o impensável, cada fantasia, provocar o gemido, o revirar de olhos, as palavras que nunca se dizem nas conversas, provocar o gozo, enorme, badalado, repetido em cada poro, gritado em cada lágrima que corre pela face sem retorno, provocar um estremeção em cada gota de mim que toca o teu veludo vermelho.

Provocar, sim isto é mais uma provocação. Esperavas o quê?