A enorme recta desta estrada,
corre a perder de vista, sem curvas, direita, na direcção que conduz ao sol, à
enorme luz, com alinha branca ao meio, que a divide em duas iguais.
Direita percorre planuras
intermináveis, sem obstáculos, lindas, verdes, corta florestas de enormes
árvores, ignorando sombras que se projectam, escorregando nas folhas caídas,
fumos, chamas de incêndios que a ameaçam, segue por colinas sem se desviar,
trepa-as, desce-as, abranda nas subidas, acelera com toda a alma nas descidas,
sempre a direito, sempre em frente, sem olhar para o lado, sem avaliar a
paisagem, desventra as montanhas que alterosas a tentam desviar, abrindo tuneis
que as penetram, que as atravessam, violando o que de mais intimo escondem,
revolvendo a terra, afastando toda a rocha,
De dia contrasta no seu negro com
o brilho branco da luz que a ilumina, mostrando-se direita no seu destino, na
sua vontade de continuar, na vertigem de não se desviar, na força de um traço
firme e inabalável, de noite confunde-se, confunde-se com o negro das sombras
que a visitam, mistura-se com o negro da escuridão, ameaça os olhos mais claros
e límpidos, cria armadilhas, armadilhas enormes para os incautos, obriga os
temerosos a voltar, dissolve-se nos nevoeiros, deixa as névoas abrandarem as
corridas, esconde o que não há para esconder.
O meu caminho é igual a esta
recta interminável, percorro-o, acelero por ele sem me desviar, sem abrandar.
Agora percebo porque é diferente,
diferente do tempo porque passo, porque ganho tudo, porque perco tudo, porque
amo a correr, porque sinto a correr, porque me entrego a correr, porque me
perco a correr, porque sofro a correr.
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