As nuvens são como bolas de
algodão.
Do algodão doce herdaram todas as
cores, outras retiraram da noite, da escuridão, pinceladas dos brilhos das
estrelas ou do sol que as aquece, mas deixaram fugir os sabores que as cores
traziam em si.
As nuvens são tão leves que a
fresca brisa de cada entardecer as transporta, as faz correr, atravessando
céus, percorrendo caminhos desconhecidos, unindo-as, esculpindo novas
montanhas, ventres, castelos, avenidas, bocas horrendas, olhos azúis. As nuvens
parecem vazias, despovoadas, frágeis em cada curva misturada, em cada recanto
da forma que se transforma. Mas em cada nuvem esconde-se uma tempestade, uma
força enorme, um peso que flutua por milagre, um destino que se contraria no
seu ventre.
As nuvens escondem segredos,
coisas perdidas, calores ardentes, dos raios de sol que apanhou na sua
armadilha que se parece com novelos de algodão. As nuvens escondem sob o seu
manto, terras que não floriram, sementes que secaram, animais que morreram
sequiosos e secaram, florestas que se consumiram em enormes fogos, tudo porque
lhes recusou a gota de água que não quis abandonar.
Sob as nuvens escondem-se terras
alagadas, torrentes lamacentas que percorrem as encostas de cada montanha,
cavando sulcos que imitam a idade de mais um rosto seco, gentes afogadas, casas
submersas, risos loucos a correr para o nada, raízes arrancadas das entranhas
da terra, folhas apodrecidas, madeiras flutuando, porque sobre tudo despejou o
ácido doce das gotas juntas, pesadas, enormes.
As nuvens são lágrimas que alguém
chorou, são sonhos que se transformaram em fumo, são desamores, queixas. As nuvens
correm, percorrem o céu devagar ou a voar, umas vezes crescem, outras
desaparecem aqui, secas, ou caem no chão, nascem do simples lago, da planta
daquele vaso, da enorme sequóia, da floresta ou do mar.
As nuvens cavalgam o vento.
As nuvens entram nos meus olhos,
tornam a imagem difusa, abafam os sons, humedecem-me os lábios, nascem junto do
coração.
Nuvens são o que são.
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