sexta-feira, 2 de agosto de 2013

02.08.2013 (do tempo por que passo).


No tempo, o tempo nem sempre é tempo que se conte, que se sinta, que se veja, que passe por nós deixando as suas marcas, que se guarde para sempre, que seja para recordar nesse momento.

No tempo, há sempre um tempo que pára os ponteiros, que os impede de marcar o ritmo dos momentos, que afasta a felicidade, porque a felicidade precisa de tempo, de segundos, para que cada segundo se possa beber com os olhos, para que a boca possa ver a outra boca, para que as mãos se molhem, se cruzem, se penetrem pelos intervalos dos dedos, interpretando a letra do verso nascido desses momentos.

Nesse tempo parado pela insegurança dos ponteiros que o contavam, nasce uma raiva surda, que abafa o grito que a garganta engole incapaz de o expelir, cresce um temporal capaz de arrasar a maior das planícies, o vendaval que arrancará as árvores mais poderosas, esventrando a terra que envolve cada raiz.

Mas nem a raiva, nem a chuva do imenso temporal, nem a força do enorme vento nascido daquele furacão que derrubou a montanha, queimou a floresta, afogou o maior dos mares, nada disto fará o tempo regressar ao momento em que marcava segundos, segundos daqueles que se cavalgam em alazões brancos de enormes asas, alazões brancos que nos transportam através dos sonhos que sempre nos antecedem nos momentos em que o tempo não estava parado, sem vida, sem nada.

Um dia encontrei um tempo assim… outra vez. Mas eu já conheço este tempo parado, já o enfrentei, sei quanto dura, sei como apodrece, sei como morre. Este tempo contraria o tempo, desrespeita as suas próprias leis, este tempo consome-se parado, empurrado pelos ponteiros que imobilizou. Este tempo engole-se.

Este tempo parado morre sozinho, é vítima do mesmo tempo, daquele que empurra os ponteiros do relógio, daquele tempo por onde realmente passamos, que nos envelhece, que nos acaba, que nos leva. Este tempo parado não é nosso porque nele viveríamos eternamente infelizes.

Por isso prefiro, ignoro e aproveito, cada momento do único tempo que interessa, do agora em que vivo, de que recordo tantos momentos, e que um dia, sem parar nos levará.

Eu sim, posso parar o tempo, agora, já. (Mas não quero!).


02.08.2013 (do tempo por que passo).

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