quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vai perder-se uma estrela?



Na noite escura como breu, sem Lua, o céu anima-se com mil brilhos, pontos cintilantes que povoam a sua própria escuridão, formando as bizarras figuras, que permanecem equilibradas, sempre no ontem, no agora, no depois, e palpitam, palpitam como se tivessem coração, se respirassem, se bebessem no escuro que as envolve, combustível improvável da luz.

Nesse céu que se estende a perder de vista, as estrelas equilibram as suas forças, atraem-se, repelem-se, nunca se tocam, apenas se olham, medem forças, para que os poderes enormes se compensem, se anulem, e os ténues fios que as ligam, ocultos na sua própria invisibilidade, não se quebrem, e a mão de quem os segura, de quem as controla, como papagaios de papel empurrados pelo vento, não se abra e as abandone ao seu próprio destino, para que ardam, para que se percam engolidas pelo enorme buraco negro que espera quem se soltou.

Essa mão protectora que tudo equilibra, está atenta, contraria quem muito puxa, equilibra quem muito se aproxima, afasta quem se junta, evita a colisão do desequilíbrio, evita que a paixão se torne tempestade incontrolável, que o amor não se misture com o ódio, que a violência seja engolida, que a luz de cada estrela não consuma toda a escuridão, para que a noite não expluda como se fosse dia.

Por vezes uma estrela mais atrevida, mais inconstante na sua trajectória invisível, desobedece, e o ténue fio que a equilibra quebra, e as atracções, as tentações, as vertigens, arrastam-na, e as colisões podem arrastar outras, devastar mundos, queimar constelações. Quando a sorte as favorece, podem ser apanhadas por outra mão que evita o descalabro, segurando o que resta do fio que se quebrou, esperando que o mesmo cresça outra vez. Na vida chama-se segunda oportunidade, na noite, no mundo das estrelas, chama-se renascer.

Na vida e na noite, às vezes, poucas vezes, o fio cresce, fica mais forte, as forças ganham a intensidade certa, equilibra-se a escuridão, equilibra-se a vida e a estrela cresce, resplandece.

Quando não acontece, adeus, não aparece mais nenhuma mão.

No meio deste enorme céu, vi uma estrela que por muito tempo se debateu, forçou a linha de luz qua a equilibrava, e no seu voltear louco, outras à volta moveram-se, atraíram-se, repeliram-se, juntaram-se, até que uma se soltou, colidiu, o fio de luz quebrou e a arrastou. Começou a corrida louca a caminho do nada, do desconhecido, incapazes que eram de equilibrar as forças, destruindo-se, anulando-se, sofrendo.

A mão que protegia uma estendeu-se, conseguiu agarrar o que do fio de luz restava, e a velocidade refreou, o seu universo reequilibrou. Mas durou pouco e o fio voltou a partir, desta vez sozinho, enfraquecido que tinha ficado.

O buraco negro lá estava ameaçador, irrecusável, inexorável, sombrio. A estrela aproximou-se do seu fim, perigosamente, sem conseguir travar. Adeus estrela!


Mas do nada surgiu outra mão, e a ponta do fio enleou-se-lhe nos dedos, salvando a estrela, ou apenas atrasando a sua extinção, adiando o fim que já se percebeu. O buraco negro está ali, demasiado perto, não se cansa, não desespera, já conhece aqueles brilhos, sabe que apenas precisa esperar.

Sem comentários: