Olhei perplexo aquela “coisa” que
vi bem na minha frente. Não fazia ideia do que era, enorme, brilhante, parecia
que nela tinham gasto todo o aço que havia, como dizer, eram tubos e tubos,
paralelos, outros tantos atravessados, parecia também que tinha janelas e
vidros, e a escada que avistei no aço terminava, numa enorme chapa luzidia, e
de porta nada se via.
Também tinha pernas, seis,
articuladas, pelo menos tinham joelhos com enormes círculos que os
diferenciavam de tudo o que era recto. E uns enormes sapatos.
Estava ali no meio da erva, e por
baixo tudo era negro dentro da cova que a albergava, e ao lado uma árvore
derrubada, sem folhas, e os troncos e ramos mais pareciam carvão consumidos
pelo fervor de algum furacão que os destroçara.
Atrevi-me (não logo porque as
pernas tremiam) a me abeirar, não sem antes a observar de todos os ângulos,
atrás de cada aresta, de cada sombra. Pensei espreitar uma janela, mas de tão
altas, a escada que tinha nem a meio alcançava, e cá de baixo, do sítio onde
estava apenas via a poeira que se acumulava nos vidros escurecidos. Mais uma
volta acabei por dar, parando no sopé da escada que parecia que a lugar nenhum
conduzia.
“Tenho que subir” pensei, mas não
tem porta! “Mesmo assim vou ver!”.
E lá fui eu, galgando cada degrau
como se a subida do Calvário estivesse a fazer (mesmo sem ser), e o medo era
tanto que nem vi, porque para cima não me atrevia a olhar, que uma porta se
abria lá no cimo, de par-em-par. Faltavam apenas meia dúzia daqueles degraus de
rede brilhante, quando vi a bendita que me aguardava, como boca enorme pronta a
me engolir.
Parei e pensei… “Vou mas é fugir!”,
mas os pés não mexiam, recusaram-se a obedecer ao comando que lhes enviei, e as
pernas como se não fossem minhas obrigaram-me, empurram-me em frente
mergulhando-me no negro da noite, no desconhecido tão pouco apetecido.
Vi um corredor, de luzes que
jorravam do chão, reflectidas em cada curva, misturando-se, dissipando-se,
partindo-se em mil arco-íris, e ao fundo outra porta, já aberta e de brilho
ainda maior. As pernas lá foram puxando cada pé, e o caminho foi curto pois num
ápice galguei mais aquele obstáculo que em atordoava já.
A sala estava cheia de mesas e
sobre elas, consolas e mais consolas, verdes, amarelas, tantas eram, cheias de
números letras a correr, nascendo no fundo e subindo, subindo, subindo, até
desaparecerem. Mesmo a meio uma cadeira, enorme como nunca tinha visto, toda
vermelha num couro muito bem tratado e envernizado. Sem saber como já lá estava
sentado.
E então aconteceu, o monitor na
minha frente acendeu e uma mensagem o encheu. Dizia:
“Não tenhas medo Lindo. Sou eu.
Estás na nave que estava estacionada no meu quintal. Vais voar até aqui, não
custa nada, é apenas um segundo e estarás a aterrar.
Tenho aqui um bom vinho… e
poderemos então calmamente conversar.”
A nave levantou, e eu… estou a
voar. A “miúda” não sabe esperar!
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