terça-feira, 2 de julho de 2013

A viagem

Olhei perplexo aquela “coisa” que vi bem na minha frente. Não fazia ideia do que era, enorme, brilhante, parecia que nela tinham gasto todo o aço que havia, como dizer, eram tubos e tubos, paralelos, outros tantos atravessados, parecia também que tinha janelas e vidros, e a escada que avistei no aço terminava, numa enorme chapa luzidia, e de porta nada se via.

Também tinha pernas, seis, articuladas, pelo menos tinham joelhos com enormes círculos que os diferenciavam de tudo o que era recto. E uns enormes sapatos.

Estava ali no meio da erva, e por baixo tudo era negro dentro da cova que a albergava, e ao lado uma árvore derrubada, sem folhas, e os troncos e ramos mais pareciam carvão consumidos pelo fervor de algum furacão que os destroçara.

Atrevi-me (não logo porque as pernas tremiam) a me abeirar, não sem antes a observar de todos os ângulos, atrás de cada aresta, de cada sombra. Pensei espreitar uma janela, mas de tão altas, a escada que tinha nem a meio alcançava, e cá de baixo, do sítio onde estava apenas via a poeira que se acumulava nos vidros escurecidos. Mais uma volta acabei por dar, parando no sopé da escada que parecia que a lugar nenhum conduzia.

“Tenho que subir” pensei, mas não tem porta! “Mesmo assim vou ver!”.

E lá fui eu, galgando cada degrau como se a subida do Calvário estivesse a fazer (mesmo sem ser), e o medo era tanto que nem vi, porque para cima não me atrevia a olhar, que uma porta se abria lá no cimo, de par-em-par. Faltavam apenas meia dúzia daqueles degraus de rede brilhante, quando vi a bendita que me aguardava, como boca enorme pronta a me engolir.

Parei e pensei… “Vou mas é fugir!”, mas os pés não mexiam, recusaram-se a obedecer ao comando que lhes enviei, e as pernas como se não fossem minhas obrigaram-me, empurram-me em frente mergulhando-me no negro da noite, no desconhecido tão pouco apetecido.

Vi um corredor, de luzes que jorravam do chão, reflectidas em cada curva, misturando-se, dissipando-se, partindo-se em mil arco-íris, e ao fundo outra porta, já aberta e de brilho ainda maior. As pernas lá foram puxando cada pé, e o caminho foi curto pois num ápice galguei mais aquele obstáculo que em atordoava já.

A sala estava cheia de mesas e sobre elas, consolas e mais consolas, verdes, amarelas, tantas eram, cheias de números letras a correr, nascendo no fundo e subindo, subindo, subindo, até desaparecerem. Mesmo a meio uma cadeira, enorme como nunca tinha visto, toda vermelha num couro muito bem tratado e envernizado. Sem saber como já lá estava sentado.

E então aconteceu, o monitor na minha frente acendeu e uma mensagem o encheu. Dizia:

“Não tenhas medo Lindo. Sou eu. Estás na nave que estava estacionada no meu quintal. Vais voar até aqui, não custa nada, é apenas um segundo e estarás a aterrar.

Tenho aqui um bom vinho… e poderemos então calmamente conversar.”


A nave levantou, e eu… estou a voar. A “miúda” não sabe esperar!


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