terça-feira, 9 de julho de 2013

Nosso medos


Noite, Lua, segredos, felicidade, medo, amor, fazer amor, esquecer, não ouvir, fingir, estas são algumas das palavras que ouvi e ficaram, apenas porque me esqueci de esquecer.

Noite, adoro a noite, a escuridão, as sombras que caminham debaixo dos nossos pés, fogem.

Que ficam pequeninas às vezes (como se não tivéssemos sombra), ou enormes, feitas fantasmas de cada um. Quando encaro a luz, a sombra está lá, mas não a vejo porque se esconde, estendendo-se para trás, se ando, mistura-se com tantas outras, muda de forma, abraça quem não me quer abraçar.

A noite apresenta o desconhecido, amedronta, esconde em cada esquina uma surpresa, transforma o sonho em realidade, oculta os corpos dos amantes, junta paixão, perigo, morte, ilusão.

A Lua vive quase sempre na noite, mentindo-nos com as suas formas bizarras, dizendo-nos que cresce quando mingua, ou redonda e cheia nos seus mistérios, ouve, guarda, desmente e os seus montes, crateras enormes criam sombras que lhe fazem olhos, bocas, caras. Os segredos da Lua só a ela pertencem, perdidos para sempre na outra face, aquela que nunca desenha.

Eu sei que contaste um segredo à Lua.

Só não sei se esse segredo te deu felicidade e medo. Medo que nos faz estremecer, temer, porque a felicidade é tão rara que assusta, porque a felicidade é tão pouca que se perde, medo, porque o medo faz com que se deseje ainda mais, medo que todos os nossos segredos deixem de ser segredos para alguém que sabe ler dentro de nós.

Amor, fazer amor, esquecer, fingir, não ouvir. Mas eu ouvi, senti como se tivesse feito, não esqueci, não fingi. Não faz mal, as confidências não magoam, as verdades apanham-se, sentem-se, vivem dentro de nós. Não há vergonha quando nos tocamos assim, quando as mãos se encontram naquele vazio, quando o desejo se confessa mesmo sem palavras, porque as palavras não chegam para o descrever.

Mesmo sem corpos, mesmo sem abraços, mesmo sem bocas, mesmo sem olhos, sentimos o que havia para sentir, mesmo que não se tivesse dito, mesmo que o tivesse esquecido, apagado.

Não há respostas, pois não, porque não se fizeram perguntas, porque o que é natural é lindo e não precisa ser perguntado, e o silêncio tem mais palavras que qualquer poema, mais melodia que o tango mais sensual e quente, ouvindo-se, ecoando, gritando.

Medo? Claro que mete medo, o impensável mete medo, o desconhecido mete medo, o improvável assusta, o querer abana.

Já escrevi isto tanta vez, já falei disto tanta vez, já o contei, já o ensinei, já o aprendi, mas mete sempre medo, um medo sempre novo, um medo sempre forte, o meu medo.


É teu, o teu medo, é meu, o meu medo, nossos medos.


2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo, tão humano que até dói...para depois tranquilizar.

Eu não sou ninguém disse...

Pois dói. Ontem doeu-me, a mim e a mais alguém.
Mas tem sempre um efeito perverso, sabe muito bem mas mete muito medo.

Beijinhos