quinta-feira, 11 de julho de 2013

"EXÓTICA"

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Quem diria que este número ia cair aqui e, que o assunto teria mudado assim, radicalmente. Mas mudou, mudou, e graças a essa mudança encontrei outra vez o caminho que parecia perdido, que me calou durante algum tempo, como se qualquer coisa se tivesse quebrado.

Novecentos é um número enorme, mas é assim porque não me apeteceu mudar a ordem, não me apeteceu voltar a zero, porque afinal a vida continuou igual, a luz não se apagara, os olhos continuavam a ver. E viram, e olharam, e admiraram, abriram a porta que se fechara, e as palavras juntaram-se de novo, as histórias esquecidas reapareceram, o calor não arrefecera.

“Exótica”, foi a palavra que nunca ouvira para classificar aquilo que afinal é simplesmente inclassificável.

“Exótica” nos seus longos cabelos negros, nos olhos iguais, olhos que estão sempre a sorrir mesmo quando me diz que está triste, e onde eu com a minha mania de ler, vejo uma mulher com uma enorme vontade de viver, uma alegria interminável de estar, de devorar tudo o que aparece, feita leoa insaciável e quente.

“Exótica” no seu longo e esbelto pescoço, que inclina ligeiramente e lhe dá um aspecto de gazela assustadiça, talvez uma gazela que já vi beber, saciar uma sede infindável no charco de água barrenta, numa savana repleta de lobos, de leoas, de feras que a respeitaram, a olharam e deixaram viver.

“Exótica” nos seios redondos, desenhados, guardados para despertar imaginários, emoções, sentimentos, paixões, prazeres, carícias, acender fogueiras mesmo que extintas, mornas, transformando-as em verdadeiros incêndios na floresta, que nem mil bombeiros apagarão.

“Exótica” nas suas longas pernas nuas, pernas que prometem apertar qualquer cintura, amarrar qualquer corpo como teia de enorme aranha, armadilha que esconde a morte que sofrerá quem tentar fugir depois de nela cair, mas também promete o prazer de balançar eternamente nos seus fios.

“Exótica” nos desejos que não esconde e de que fala abertamente, sempre preocupada em não ferir ou ofender, como se o imaginário de cada um pudesse ferir ou ofender quem quer que seja.

“Exótica”, porque é um furacão sequioso, uma loba feroz, e uma gatinha meiga e carinhosa que se enrosca com ternura no colo, esperando uma festa na cabeça, enquanto amolece com as patas felpudas e almofadadas as coxas que a acolhem.

“Exótica”, porque respeita a sua liberdade de mulher sem arriscar o julgamento público, sem alardear o seu “exotismo”, sem anunciar os seus desejos, transparente como a água que corre por entre as pedras do leito de um riacho, mas com a força oculta da corrente de um rio, rio cheio de rápidos, curvas perigosas, velocidades vertiginosas.

“Exótica” porque surpreende, surpreende sempre, a cada minuto, mas cada surpresa está sempre repleta de alegria, de força, de desejo de viver.

“Exótica” apenas porque a vejo assim, porque só eu a vejo assim, porque nunca ninguém o tinha visto, nunca ninguém o tinha dito, talvez e apenas porque o seu próprio “exotismo” engane, e talvez esse engano cubra a sua maneira “Exótica” de ser.

Apenas “Exótica”.


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