terça-feira, 23 de julho de 2013

Como dói !


Quem não o sentiu já, quem não suportou a tortura de o ter, a dúvida insuportável que nos corrói, que queima tudo, que se apossa do espírito e o martiriza, que ocupa o cérebro e o torna irracional, que nos fragiliza ainda mais, que aparece do nada, suportado do nada, emergindo do nada, sem motivo lógico que o sustente, que engole o nosso bom senso.

É pior que a saudade, não se cura quando se vê, quando se toca, quando nos aproximamos, quando desfrutamos  porque quase sempre piora, aumenta num piscar de olhos, numa palavra dita, num gesto, no vestir, no estar, em cada reacção que tomamos como assumida para o aumentar, é uma dor que se instala, é tudo menos confiar.

Torna-se tantas vezes doentio, uma paranóia, aguça o desejo de perseguir, de espiar, de se ser traiçoeiro, mau, matreiro.

As cores são apagadas, tudo se torna cinzento, duvidoso, nenhuma melodia serve a um tal maestro, todos os instrumentos da orquestra desafinam, incapazes de conhecer o ritmo imposto pelo coração, porque muda sem qualquer compasso. É o fracasso, o agonizar lento do compositor, o falhar do verso do poeta, a estátua que se quebra do escultor a quem o cinzel escapou por entre os dedos.

Só não o sente quem nunca amou e, mesmo esses

O ciúme porque afinal é dele que falo, é assim.

O ciúme assim enorme e descontrolado não passa de um vil e desprezível sentimento, que nos torna por vezes mesquinhos, de uma mesquinhez atroz, gritante, que tantas vezes conduz à agressão baixa, cobarde, ou ao assassínio.

Claro que também já o senti, que espalhei por versos tantos, que descarreguei em prosas, mas nunca persegui, nunca espiei, nunca procurei ou investiguei, apenas me roí por dentro, ardi lentamente nos seus braços, contra ele lutei com todas as forças e esqueci, ignorei e passou.

Também já me tornei sua vítima, sofri com acusações infundadas, fui humilhado pelo descrédito, pela confiança abalada, pela mentira instalada. Por vezes perdoei, outras não e fugi, abandonei, deixei para trás tudo o que tinha e recomecei.

A medida do perdão não sei qual é, cada um sabe de si.


O ciúme é assim.

2 comentários:

Anónimo disse...

É como dizes... o ciúme é assim!

E como atormentam a nossa vida e a nossa alma... como no sufoca e esmaga....

Fases ditadoras essas em que o ciúme domina com voz de comando.

Beijos
DD

Eu não sou ninguém disse...

Sim DD...

Porque me queixo? Porque me destruiu vinte e três anos de vida...

Por isso o odeio.

Beijos