Quem não o sentiu já, quem não
suportou a tortura de o ter, a dúvida insuportável que nos corrói, que queima
tudo, que se apossa do espírito e o martiriza, que ocupa o cérebro e o torna
irracional, que nos fragiliza ainda mais, que aparece do nada, suportado do
nada, emergindo do nada, sem motivo lógico que o sustente, que engole o nosso
bom senso.
É pior que a saudade, não se cura
quando se vê, quando se toca, quando nos aproximamos, quando desfrutamos
porque quase sempre piora, aumenta num piscar de olhos, numa palavra dita, num
gesto, no vestir, no estar, em cada reacção que tomamos como assumida para o
aumentar, é uma dor que se instala, é tudo menos confiar.
Torna-se tantas vezes doentio,
uma paranóia, aguça o desejo de perseguir, de espiar, de se ser traiçoeiro,
mau, matreiro.
As cores são apagadas, tudo se
torna cinzento, duvidoso, nenhuma melodia serve a um tal maestro, todos os
instrumentos da orquestra desafinam, incapazes de conhecer o ritmo imposto pelo
coração, porque muda sem qualquer compasso. É o fracasso, o agonizar lento do
compositor, o falhar do verso do poeta, a estátua que se quebra do escultor a
quem o cinzel escapou por entre os dedos.
Só não o sente quem nunca amou e,
mesmo esses…
O ciúme porque afinal é dele que
falo, é assim.
O ciúme assim enorme e
descontrolado não passa de um vil e desprezível sentimento, que nos torna por
vezes mesquinhos, de uma mesquinhez atroz, gritante, que tantas vezes conduz à
agressão baixa, cobarde, ou ao assassínio.
Claro que também já o senti, que
espalhei por versos tantos, que descarreguei em prosas, mas nunca persegui,
nunca espiei, nunca procurei ou investiguei, apenas me roí por dentro, ardi lentamente
nos seus braços, contra ele lutei com todas as forças e esqueci, ignorei e
passou.
Também já me tornei sua vítima,
sofri com acusações infundadas, fui humilhado pelo descrédito, pela confiança
abalada, pela mentira instalada. Por vezes perdoei, outras não e fugi,
abandonei, deixei para trás tudo o que tinha e recomecei.
A medida do perdão não sei qual
é, cada um sabe de si.
O ciúme é assim.
2 comentários:
É como dizes... o ciúme é assim!
E como atormentam a nossa vida e a nossa alma... como no sufoca e esmaga....
Fases ditadoras essas em que o ciúme domina com voz de comando.
Beijos
DD
Sim DD...
Porque me queixo? Porque me destruiu vinte e três anos de vida...
Por isso o odeio.
Beijos
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