quarta-feira, 13 de agosto de 2014

“Hesitaste”


No meio da enorme roseira nascera o único botão vermelho.
Era lindo na sua cor aveludada, nas gotas de orvalho que o escorriam, no contraste com o verde.
Todos os dias o admiravas e desejavas colhê-lo, mas temias os espinhos, o ardor do arranhão que podia acontecer.
“Hesitaste”! Não estavas preparada para sofrer, desconfiavas dos bicos afiados, da brisa que os agitava.
E o botão cresceu, cresceu, abriu-se em belíssima rosa, e a rosa cheirou.
A rosa perfumou o ar, respirou o sol, sentiu a brisa, bebeu do chão, cresceu até que amareleceu.
“Hesitaste” e a rosa murchou e morreu.
Querias gostar de ti, do que vias no espelho, do corpo que te continha, das linhas que o desenhavam.
Mas na verdade não gostavas, não gostavas do que vias, nem sabias sequer o que sentias, achavas-te feia, desengraçada.
Querias gostar de ti, mas como o podias fazer se os olhos não te ajudavam, se as mãos não se encontravam?
“Hesitaste” e no tempo as linhas foram-se enchendo, os vestidos encolhendo, a cintura já se recusava a aparecer.
“Hesitaste” e os olhos recusaram-se a ver.
No caminho encontraste uns passos. E os passos alinharam-se a teu lado, outra mão procurou a tua, tocou-lhe morna, sentiste o arrepio.
Era estranho senti-lo, era estranho aquela chamada, não seria puro engano, sonho que se desfazeria, dor que te consumiria?
Duvidaste do que sentias, querias o que adivinhavas mas não te atrevias.
Não podia ser, tu nada valias, aquele não podia nunca querer-te. A tua insegurança cresceu.
“Hesitaste” e o amor que florescia morreu.
Todos os dias te pediam decisões, queriam-te num novo caminho, traçavam-te novos rumos, sentias a prisão em cada amanhecer.
Precisavas escolher tu. Desenhar a linha que querias percorrer, agarrar outro horizonte, correr para outros braços, beijar outra boca, embrulhar-te num outro abraço…
“Hesitaste” mas o tempo não parou.
“Hesitaste” e a vida acabou (a correr).

#1900

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