No meio da enorme roseira nascera
o único botão vermelho.
Era lindo na sua cor aveludada,
nas gotas de orvalho que o escorriam, no contraste com o verde.
Todos os dias o admiravas e
desejavas colhê-lo, mas temias os espinhos, o ardor do arranhão que podia
acontecer.
“Hesitaste”! Não estavas
preparada para sofrer, desconfiavas dos bicos afiados, da brisa que os agitava.
E o botão cresceu, cresceu,
abriu-se em belíssima rosa, e a rosa cheirou.
A rosa perfumou o ar, respirou o
sol, sentiu a brisa, bebeu do chão, cresceu até que amareleceu.
“Hesitaste” e a rosa murchou e
morreu.
Querias gostar de ti, do que vias
no espelho, do corpo que te continha, das linhas que o desenhavam.
Mas na verdade não gostavas, não
gostavas do que vias, nem sabias sequer o que sentias, achavas-te feia,
desengraçada.
Querias gostar de ti, mas como o
podias fazer se os olhos não te ajudavam, se as mãos não se encontravam?
“Hesitaste” e no tempo as linhas
foram-se enchendo, os vestidos encolhendo, a cintura já se recusava a aparecer.
“Hesitaste” e os olhos
recusaram-se a ver.
No caminho encontraste uns
passos. E os passos alinharam-se a teu lado, outra mão procurou a tua,
tocou-lhe morna, sentiste o arrepio.
Era estranho senti-lo, era
estranho aquela chamada, não seria puro engano, sonho que se desfazeria, dor
que te consumiria?
Duvidaste do que sentias, querias
o que adivinhavas mas não te atrevias.
Não podia ser, tu nada valias,
aquele não podia nunca querer-te. A tua insegurança cresceu.
“Hesitaste” e o amor que florescia
morreu.
Todos os dias te pediam decisões,
queriam-te num novo caminho, traçavam-te novos rumos, sentias a prisão em cada
amanhecer.
Precisavas escolher tu. Desenhar
a linha que querias percorrer, agarrar outro horizonte, correr para outros
braços, beijar outra boca, embrulhar-te num outro abraço…
“Hesitaste” mas o tempo não
parou.
“Hesitaste” e a vida acabou (a
correr).
#1900
Sem comentários:
Enviar um comentário