Marcado na torre da igreja,
Na pele enrugada de cada velho,
Nos olhos que já mal vêem,
Na encosta da montanha
Fustigada pela tempestades,
No leito calmo do rio
Que se aproxima da foz,
Nas conchas partidas, misturadas
Na areia da praia que a última maré
Espalhou,
Em tudo deixa marcas, desgastes,
Sulcos, nódoas da sua passagem.
É assim o “Tempo”, aquele que julgamos
Sempre ter, consumido sem ver,
Desperdiçado em cada momento,
Inebriados pelas suas promessas,
Pelos enganos dos ponteiros
Que nos parecem parados.
Eu sei que o tempo não cumpre,
Acaba sempre mais cedo,
Não chega, não cresce,
Cada momento acaba mal começou,
Cada chama extingue-se
Sem arder, não há sol sem fim.
Sem tempo vivo no limite,
Equilibro-me sobre a lâmina
Que me ameaça, mesmo sabendo
Que um dia, num segundo qualquer,
Vou escorregar,
E nada posso fazer; tudo vai acabar,
Mas enquanto conseguir respirar,
Não vou ligar ao tempo,
Aproveitando tudo, agarrando
O que me dás, sem medir se é preciso,
Se sou capaz,
Se é mais um,
Ou se é o último que terei.
#1240
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