A iluminação da sala, não deixava
Sombras; apenas debaixo dos móveis
Resistiam, e num dos cantos,
Onde dois candeeiros apagados,
Faziam companhia, a uma janela
De estore corrido, aos cortinados
Abertos e à mesa alta que roçava
A parede. Perto estava um “Canapé”,
Almofadado a veludo vermelho, que
Na semiobscuridade, mais escuro ficava;
Olhei as paredes, os quadros, as quinquilharias,
Que preenchiam os tampos
Das mesas espalhadas, as molduras
Douradas, as fotografias aí colocadas,
Os castiçais, as salvas de prata,
as velas apagadas, o enorme
Tapete que metade do chão cobria.
Aproximei-me do canto escuro,
Devagar, e no “Canapé” algo mexeu,
Uma cabeça assomou, rodou,
E o resto do corpo apareceu,
Seminu, sensual nas suas meias
Pretas e pernas perfeitas.
Lançou-me um olhar misterioso,
A mulher deitada, e nos olhos li,
Desejo; aproximei-me, a mão estendi
Para tocar toda a sua beleza, afagar
Os cabelos negros, aproveitar
A rigidez dos seios destapados; mas
A mão nada encontrou, a imagem
Atravessou, porque aquele corpo
De sonho, não passava de uma miragem,
Uma alucinação, que as saudades
E a imaginação, nos meus olhos pintara.
#1152
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