A tempestade de areia era enorme,
enrolada pelo sopro do vento que tudo abanava, tudo revolvia, tudo misturava em
enorme turbilhão, mexendo o chão, arrancando o chão, tornando cada pequena
partícula numa faca arremessada contra caras, contra corpos, cobrindo,
alisando, soprando, soprando.
Sobre o dorso do cavalo negro,
curvado na sela de couro, agarrando as suas crinas cobertas de pó, o Tuaregue
segredava alentos à sua fiel montada, para que não desfalecesse, não vacilasse,
não desistisse de lutar contra o vento que os empurrava. Ali, entre dunas,
sofrendo as torturas da tempestade, não se podia vacilar, não se podia temer,
era preciso lutar, lutar sempre e vencer, para não sucumbir, para não morrer.
As bocas estavam secas, o pó, a
areia, o vento sujo, invadiam tudo, secavam tudo, enchiam todos os recantos,
misturavam-se com o próprio ar, entupiam a respiração de quem precisava
respirar. O turbante azul do Tuaregue ondulava, protegia o que podia, como
podia; apenas os olhos se viam, mas quase não viam.
A espada do Tuaregue pendia do
cinto de cordões; naquela batalha não se usavam espadas, apenas astúcia, apenas
coragem, apenas vontade de vencer. Até então o Tuaregue tinha vencido todas as
batalhas contra aquele inimigo que tão bem conhecia já. Mas esta soava mais
violenta. Mas o cavalo negro ignorava esse perigo e confiava, não parava.
Alguma coisa brilhou bem no meio
do amarelo sujo e escuro da tempestade. E o que brilhou acendeu uma chama de
esperança, e o cavalo juntou forças e trotou, arrastando a tempestade consigo,
furando o vento teimoso, contrariando as areias com seus cascos secos; e a luz
aumentou, o seu brilho arranhou os olhos do Tuaregue que mal via, enquanto uma
cabana se desenhava, uma porta aparecia e nela uma sombra assomava.
Exausto, seco, meio morto, o
cavaleiro deixou-se escorregar para o chão. A silhueta que na porta assomara
tornou-se mulher, uma linda mulher que o chamou, prometendo no olhar enormes
prazeres, ternuras infinitas, enquanto a mão estendida convidava. O Tuaregue afastou
a volta do turbante que lhe cobria a boca e sorriu, e esse sorriso encerrava um
agradecimento; a mão continuava a segurar a tira de couro que o ligava ao
cavalo negro, e com ela o guiou até ao telheiro. Com a luva afagou-lhe o
pescoço, beijou-lhe o focinho poeirento.
O cantil despejado num alguidar
de barro que por ali estava, saciou o cavalo que depois se deitou. Sobre o seu
pescoço, o Tuaregue apoiou a cabeça e adormeceu.
A linda mulher sorriu, Sorriu e percebeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário