quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Tuaregue e a Tempestade


A tempestade de areia era enorme, enrolada pelo sopro do vento que tudo abanava, tudo revolvia, tudo misturava em enorme turbilhão, mexendo o chão, arrancando o chão, tornando cada pequena partícula numa faca arremessada contra caras, contra corpos, cobrindo, alisando, soprando, soprando.

Sobre o dorso do cavalo negro, curvado na sela de couro, agarrando as suas crinas cobertas de pó, o Tuaregue segredava alentos à sua fiel montada, para que não desfalecesse, não vacilasse, não desistisse de lutar contra o vento que os empurrava. Ali, entre dunas, sofrendo as torturas da tempestade, não se podia vacilar, não se podia temer, era preciso lutar, lutar sempre e vencer, para não sucumbir, para não morrer.

As bocas estavam secas, o pó, a areia, o vento sujo, invadiam tudo, secavam tudo, enchiam todos os recantos, misturavam-se com o próprio ar, entupiam a respiração de quem precisava respirar. O turbante azul do Tuaregue ondulava, protegia o que podia, como podia; apenas os olhos se viam, mas quase não viam.

A espada do Tuaregue pendia do cinto de cordões; naquela batalha não se usavam espadas, apenas astúcia, apenas coragem, apenas vontade de vencer. Até então o Tuaregue tinha vencido todas as batalhas contra aquele inimigo que tão bem conhecia já. Mas esta soava mais violenta. Mas o cavalo negro ignorava esse perigo e confiava, não parava.

Alguma coisa brilhou bem no meio do amarelo sujo e escuro da tempestade. E o que brilhou acendeu uma chama de esperança, e o cavalo juntou forças e trotou, arrastando a tempestade consigo, furando o vento teimoso, contrariando as areias com seus cascos secos; e a luz aumentou, o seu brilho arranhou os olhos do Tuaregue que mal via, enquanto uma cabana se desenhava, uma porta aparecia e nela uma sombra assomava.

Exausto, seco, meio morto, o cavaleiro deixou-se escorregar para o chão. A silhueta que na porta assomara tornou-se mulher, uma linda mulher que o chamou, prometendo no olhar enormes prazeres, ternuras infinitas, enquanto a mão estendida convidava. O Tuaregue afastou a volta do turbante que lhe cobria a boca e sorriu, e esse sorriso encerrava um agradecimento; a mão continuava a segurar a tira de couro que o ligava ao cavalo negro, e com ela o guiou até ao telheiro. Com a luva afagou-lhe o pescoço, beijou-lhe o focinho poeirento.

O cantil despejado num alguidar de barro que por ali estava, saciou o cavalo que depois se deitou. Sobre o seu pescoço, o Tuaregue apoiou a cabeça e adormeceu.

A linda mulher sorriu, Sorriu e percebeu.

Sem comentários: