A enorme pedra acastanhada,
Escorregara da encosta, no ar
Penetra com todo os eu peso,
Acelera, embate no chão, feita
Bomba, explodindo em mil
Fragmentos, rolados,
Espalhados como gotas de chuva;
Cada um sofre, dilata,
Encolhe, contraí as entranhas,
Gelado pelo frio, que no dia
Aqueceu; e racham-se,
Quebram-se, dividem-se:
Um deles, arrastado por patas
De animais sequiosos, mergulha
Nas águas do ribeiro
Que mais abaixo já é rio,
Correndo forte por leitos
Pedregosos, agrestes; o calhau
Castanho, rola, arrastado pela força
Que não consegue contrariar,
Choca com outros que no fundo
Encontraram cama, descanso,
E algumas das vivas arestas
Quebram, dão lugar a outras,
Menos vivas, a lama dissolve-se,
Na face aparecem outros tons;
No caminho o fundo muda,
Os seixos mais suaves aparecem,
Com eles dança, mistura-se,
Roça-se, alisa-se, amolecendo
Arestas, ganhando cor, mostrando
A alma que escondia; os seixos
Tornam-se areia, fina sílica
Que o acaricia no seu constante
Rebolar, arredondando-o, devolvendo-lhe
O brilho que não existia, polindo
Com luz, o que de baço era;
E rolava, rolava sempre, enquanto
O brilho aumentava, a beleza
Despontava, crescia; o mar
Apareceu e nele se salgou,
Na maré que o depositou na praia,
Entre conchas e despojos de lutas;
A mão de uma criança tomou-a,
Deliciou-lhe os olhos, partiu com ela,
Adormeceu esquecida numa gaveta.
Muitos anos depois, o homem
Que cresceu, encontrou-a, lavou-a
Do tempo, encheu-a de novo brilho,
Desconhecendo que o verde
Que ostentava, nascera do castanho,
Na “Metamorfose” que transformava
A face de um mundo estranho,
Árido ao nascer, belo no crescer,
Um sonho ao encontrar,
Um aproveitar no viver,
Um recordar ao morrer.
#1126
Sem comentários:
Enviar um comentário