Escrevia, distraído na madrugada
Que envelhecia, embalado
Pela música que tocava;
As palavras transformavam ideias,
Afastavam o sono que tardava,
Formavam o verso, caído
Entre vírgulas, que no folego
Se alimentava; e resistia.
Mas outro som começou
A ouvir-se; era a vidraça a vibrar,
Fustigada pela “Chuva”
Que chegara, e caía forte,
Copiosamente, teimando
Em rasgar o que do verão
Sobrara, na nova estação
Que ainda agora chegara
E já se sentia.
As poeiras dos dias findos
Escorriam pelo transparente,
Em pequenos rios enlameados,
Engrossando em cada gota
Que se lhes atravessava.
Pensei: preciso desta chuva,
Preciso que me molhe,
Preciso que cada gota
Dissolva, junte, arraste
Toda a poeira dos meus olhos,
Que o verão acumulou.
#1125
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