Debaixo das pedras há vermes,
coisas rastejantes que se escondem, aproveitando a cova, bebendo o fresco da
sombra, fugindo dos pés que se passeiam, das pegadas que se afundam, cegos que
nunca viram luz, não enxergaram as cores de um arco-íris, o branco do
malmequer. Coisas rastejantes que evitam olhos, que circundam olhares, que
aproveitam o dia para descansar, planear, urdir, inventar, mentir para depois,
na noite, atacar.
Debaixo das pedras há vermes,
coisas rastejantes, que nunca encaram, nunca olham de frente, que baixam os
olhos para disfarçar o que sentem, o que estão a tramar, pintando de preto a
lâmina não vá um raio de sol denunciar.
Debaixo das pedras há vermes,
coisas rastejantes, que se pisamos se desfazem envenenando tudo em redor,
fedendo rancores, ódios, falsos amores, cobardias, meias verdades e mentiras,
invejas, sim o pior são as invejas que rastejam a seu lado, dando à noite o
nome da víbora, misturando o fel, o veneno e o mel.
Hoje anoiteceu subitamente, e por
debaixo das pedras, os vermes, as coisas rastejantes, assomaram, escondidos nas
sombras atacaram, escolheram uma vítima entretida que estava a olhar outros
olhos, a partilhar horizontes de esperança e, pararam o relógio, suspenderam o
amor, porque o amor é subversivo, o amor é capaz, o amor é arma.
Debaixo das pedras há vermes,
coisas rastejantes, que apenas dão pequenas dentadas, que se misturam com
pequenas vitórias, que acabam por perder todas as batalhas, porque de ódios são
cegos, de invejas são surdos, de cobardia são quietos.
Debaixo das pedras há vermes,
coisas rastejantes que sempre atacarão quem ama, mas quem ama sempre os
vencerá!
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