segunda-feira, 23 de setembro de 2013

“Caixa”


A fita de seda vermelha dobrada, guardada na “Caixa” vazia de café.

A folha de papel de embrulho colorida, arrumada na gaveta da cómoda que já teve camisas.

O vestido de renda branca, bordado pelas traças nascidas do tempo,

A trança de cabelo louro que fugiu da cabeça da criança que cresceu,

O segundo do relógio enrolado na corda ferrugenta da viola caída.

O envelope sem nome amarelo, cortado, cheio de selos carimbados.

As pegadas da fotografia do atapetado de um areal, ao pôr-do-sol.

O sonho arrumado numa prateleira, entre as caixas de flocos e uma embalagem de esparguete.

O vermelho de uns lábios quentes, marcados no copo de cerveja.

As cinzas que me cobrem, saídas de um corpo frio lançado ao vento.

O sentimento pisado no almofariz, onde o pilão tem pés de barro.

As botas calçadas nos pés, de pernas que se recusam a andar.

A mulher que perdeu os olhos, a olhar o amor de que cegou.

As palavras da história inacabada, nas páginas de um livro que se inflamou.

O fósforo ardido, caído algures entre o tempo e o sonho.

A cara que nasceu do pó negro riscado, e está pendurada num fio suspenso por este prego.

A vírgula que não ficou e caiu, no meio de uma frase de amor.

O ponto que já não está aqui, mudando o encontro de lugar.

O degrau onde tropecei, mas que mesmo assim continua nesta escada enrolada.

A vida que….

(este já estava escrito. Fica aqui para cumprir a ordem)

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