“Alfabeto”

Sim voltei atrás, para me lembrar

Que no a, b, c, não quero continuar;

Para quê respeitar a ordem,

Ser certinho, não vacilar,

Se na cabeça não tenho,

As palavras arrumadas,

Nem as rimas feitas,

Nas ideias alinhadas.

O meu “Alfabeto” é outro,

Desarrumado e diferente;

Tem letras, lá isso tem,

Mas não sei qual a primeira,

A segunda ou terceira,

As que entram na brincadeira,

As que me fogem

E se escondem além,

As que grito, quando te vejo,

As que calo, afogadas num beijo,

As que roço, enquanto te afago,

As que praguejo, se te esmago.

O “Alfabeto” não me serve,

Porque o que em mim sinto,

Com letras não se escreve,

Porque palavras não são;

Desejo, amor, paixão,

São emoções, sentimentos,

São sonhos, algodão;

Escrevo-as com a boca,

Devora-as com sofreguidão.

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