sábado, 24 de agosto de 2013

TE


Sons, melodias em tangos ardentes, cantares de centenas de rouxinóis, conversas, palavras, buzinas, motores, o uivo do vento no meio da maior tempestade, a chuva que bate naquele telhado de zinco, o ladrar do cão do vizinho, a Ave-Maria tocada no relógio de pendulo, o tic-tac das horas que passam, o piar do mocho, o canto do grilo ou da cigarra… Sons.

Às vezes preciso ouvir.

Às vezes preciso ouvir sem ouvir, preciso de saber que o silêncio que oiço vem de ti, de dentro de ti, que é aquele silêncio que tão bem conheço, que me fala dos teus segredos, aqueles que meus olhos desvendam quando os olhares se cruzam, que falam em cada brilho, em cada reflexo de duas pupilas que me pedem para entrar, percorrer todos os teus recantos, abrir todas as gavetas, remexer cada linha do romance que ocultas, folhear cada página, ler tudo e esquecer.

Sim porque é preciso sempre esquecer, não quero ser dono da tua verdade, não quero que percas a tua liberdade, não quero que deixes de voar, de conquistar cada horizonte, cada espaço azul, cada impulso de vento que decidires cavalgar. Leio os teus segredos apenas porque para mim não são segredos, leio os teus segredos porque os teus olhos os contam nos silêncios que trocamos, os teus segredos, os meus segredos, os nossos segredos que segredos nunca serão… Para NÓS!

Às vezes preciso ouvir…

Estou aqui (em silêncio), amo-te (em silêncio), quero-te (em silêncio), desejo-te (em silêncio), preciso-te (em silêncio), ajuda-me (em silêncio), acompanha-me (em silêncio), possui-me (em silêncio), vem (em silêncio), escreve-me (em silêncio), liberta-me (mas isto deves gritar).

Às vezes preciso ouvir… TE!

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