Sons, melodias em tangos
ardentes, cantares de centenas de rouxinóis, conversas, palavras, buzinas,
motores, o uivo do vento no meio da maior tempestade, a chuva que bate naquele
telhado de zinco, o ladrar do cão do vizinho, a Ave-Maria tocada no relógio de
pendulo, o tic-tac das horas que passam, o piar do mocho, o canto do grilo ou
da cigarra… Sons.
Às vezes preciso ouvir.
Às vezes preciso ouvir sem ouvir,
preciso de saber que o silêncio que oiço vem de ti, de dentro de ti, que é
aquele silêncio que tão bem conheço, que me fala dos teus segredos, aqueles que
meus olhos desvendam quando os olhares se cruzam, que falam em cada brilho, em
cada reflexo de duas pupilas que me pedem para entrar, percorrer todos os teus
recantos, abrir todas as gavetas, remexer cada linha do romance que ocultas,
folhear cada página, ler tudo e esquecer.
Sim porque é preciso sempre
esquecer, não quero ser dono da tua verdade, não quero que percas a tua
liberdade, não quero que deixes de voar, de conquistar cada horizonte, cada
espaço azul, cada impulso de vento que decidires cavalgar. Leio os teus segredos
apenas porque para mim não são segredos, leio os teus segredos porque os teus
olhos os contam nos silêncios que trocamos, os teus segredos, os meus segredos,
os nossos segredos que segredos nunca serão… Para NÓS!
Às vezes preciso ouvir…
Estou aqui (em silêncio), amo-te (em
silêncio), quero-te (em silêncio), desejo-te (em silêncio), preciso-te (em
silêncio), ajuda-me (em silêncio), acompanha-me (em silêncio), possui-me (em
silêncio), vem (em silêncio), escreve-me (em silêncio), liberta-me (mas isto
deves gritar).
Às vezes preciso ouvir… TE!
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