domingo, 7 de julho de 2013

Loucuras - A Resposta

O vinho encheu os copos, a conversa enleou-se, os copos chocaram, estavas mesmo ali.

Sim estavas mesmo ali, bem perto, de copo na mão, a sorrir enquanto molhavas lentamente os lábios com o que restava do vinho gelado.

Afinal a distância era pouca, não te tinha impedido de viajar montada naquele raio de luz que te trouxera, atravessando um enorme oceano, sem que um único cristal do sal dessas águas manchasse o teu cabelo negro. E por falar nele, como brilha em cada reflexo da vela vermelha, que tremula sobre a mesa.

A tua sombra dança, balança, em cada crepitar da chama branca, estás em contraluz, tenho dificuldade em ver os teus olhos, às vezes noto-lhes o brilho, depois ficam da cor da escuridão, desaparecendo na sombra que cresce na tua face. Gosto de ler o que dizem os olhos, adivinhar os sentimentos, os segredos, ver o que contam… mas assim com eles sempre a fugir, apenas apanho fragmentos, meias histórias, uma sem princípio ouras sem fim, dos sentimentos sinto o calor, dos segredos… nada.

As palavras saltam baixinho, quase em surdina, para não ofender o silêncio da noite, para evitar que a lua, que espreita por um dos vidros da janela, oiça o que dizemos. Por vezes bafejamos cada sílaba ao ouvido para que não se percam. Brincamos, desafiamos cada momento, rimos, rimos muito, porque gostamos de estar ali.

O vinho acaba nos copos, e da garrafa que estava na mesa, despejas as últimas gotas em cada um, voltas a sentar-te… mas desta vez estás mais exposta à luz trémula da vela. Sim agora vejo perfeitamente os teus olhos que brincam com o meu olhar. Sim, agora as histórias contam-se completas, os sentimentos são mais do que calor, os segredos começam a desaparecer. Sinto-me estremecer.

Começamos a rir outra vez, nem sei porquê, mas logo nos calamos.

A conversa calou-se, os olhos descansaram num olhar e ficaram presos, o riso substituiu-se, o silêncio encheu o espaço numa enorme onda, as paredes foram-se aproximando, o espaço encolheu, quase nos tocavam, o medo fez as mãos procurarem ajuda…

De repente, inexplicavelmente a vela apagou-se e tudo mergulhou em escuridão…


Sem comentários: