quarta-feira, 17 de julho de 2013

ENORME... estupidez quadrada...


Sobe, sobe, rápido, perseguindo interesses, procurando aliados interessados, sugadores, desprezando amores, deitando fora todas as cores, inalando os gases que incham acelerando a subida que se deseja rápida, chocando com outros que apenas descansam ou tentam, em vão, avisar. Seguram-se pedras, cheiram-se chamas, compram-se guerras, retocam-se fotografias antigas para que pareçam novas, vasculham-se os importantes, decoram-se princípios que não são para cumprir.

Escolhem-se amigos convenientes, provocam-se emoções, sensações, adensam-se mistérios de pretensas jornadas, vive-se uma liberdade descontrolada, agita-se a bandeira da pseudo-realização, escolhe-se a recta para a ascensão, porque encurta a distância, dispensa a razão, basta segui-la, manter-se na “linha” dessa ilusão.

Mas subir assim cansa, fere, magoa, mesmo quando o riso mascara a dor, deixa para trás tantos, cansados, fartos, que desistem de se preocupar e é preciso mudar.

Curva fechada à esquerda, abraçando o caminho da progressividade, enchendo a boca de princípios de igualdade apenas para gritar, fazer muito barulho, fazer-se notar. Outra vez a recta para percorrer. Na recta não precisamos escolher, mas para a manter chocamos com as pedras, feridos nos obstáculos, atropelamos tudo, pelas feras somos perseguidos, fazemos uns favores, cedemos a alguns amores, pisamos depois para saltar e evitar.

Ficamos debilitados, muito debilitados. Fingimos que apanhámos a felicidade, que a provámos, até temos fotografias que roubámos sem assinatura, mas dela trouxemos apenas amargura. Por fim metemos um pé num buraco, o gás há muito se perdeu, da força tudo se esqueceu e caímos, caímos.

Caímos na vertical, mais noventa graus que fizemos, atraídos por essa gravidade que nos obriga ao peso de tudo que falhámos, sem tempo, sem oportunidade de emendar, de pedir socorro, de alguém ajudar. Quem nos queria ficou para trás, embora continuem a gritar, quem apanhava migalhas não se arrisca, quem nos puxava larga o fio que nos une, porque na verdade nunca se importou.

Batemos no fundo, rebentando, rachando, sangrando dos trambolhões, dos choques, de todas as agressões, os insultos, as desilusões de quem não brandia interessas, não oferecia ascensões. Estagnamos, alguns amigos aproximam-se, lambem-nos as feridas, oferecem-nos forças que eles próprios não têm. Aceitamos sem agradecer, divulgamos arrependimentos, desculpas, culpamos inocentes da nossa própria ineficácia.  Aproveitamos o descanso dos incautos para conseguir descansar.

E voltamos, agora para a direita, mais outro angulo igual, mais outra recta escolhida, para depressa chegar onde está a escada, a corda pendurada para que suba, para continuar a enganar, estendendo as mãos para receber as esmolas que aos pobres se dão, nas profundezas, dentro de todas as escuridões que nos violentam, mas escondidos dos olhos, pequenos que se tornam mais pequenos.

E voltamos a subir, subir, e a esquerda é outra vez escolhida, a recta a preferida, tropeçamos, caímos guiados por mais outra gravidade e cá em baixo esquecemos, nada aprendemos, nada emendamos mergulhados, afogados nos orgulhos das imagens que não são nossas, de vidas que vendemos.

E repetimos, repetimos, já sem amigos, já sem respeito pelo corpo que arrastamos….

Rimos, rimos, mesmo que ninguém nos oiça. Morremos mergulhados numa enorme… estupidez quadrada.

Sem comentários: