Sobe, sobe, rápido, perseguindo
interesses, procurando aliados interessados, sugadores, desprezando amores,
deitando fora todas as cores, inalando os gases que incham acelerando a subida
que se deseja rápida, chocando com outros que apenas descansam ou tentam, em
vão, avisar. Seguram-se pedras, cheiram-se chamas, compram-se guerras,
retocam-se fotografias antigas para que pareçam novas, vasculham-se os
importantes, decoram-se princípios que não são para cumprir.
Escolhem-se amigos convenientes,
provocam-se emoções, sensações, adensam-se mistérios de pretensas jornadas,
vive-se uma liberdade descontrolada, agita-se a bandeira da pseudo-realização,
escolhe-se a recta para a ascensão, porque encurta a distância, dispensa a
razão, basta segui-la, manter-se na “linha” dessa ilusão.
Mas subir assim cansa, fere,
magoa, mesmo quando o riso mascara a dor, deixa para trás tantos, cansados,
fartos, que desistem de se preocupar e é preciso mudar.
Curva fechada à esquerda,
abraçando o caminho da progressividade, enchendo a boca de princípios de
igualdade apenas para gritar, fazer muito barulho, fazer-se notar. Outra vez a
recta para percorrer. Na recta não precisamos escolher, mas para a manter
chocamos com as pedras, feridos nos obstáculos, atropelamos tudo, pelas
feras somos perseguidos, fazemos uns favores, cedemos a alguns amores, pisamos
depois para saltar e evitar.
Ficamos debilitados, muito
debilitados. Fingimos que apanhámos a felicidade, que a provámos, até temos
fotografias que roubámos sem assinatura, mas dela trouxemos apenas amargura. Por
fim metemos um pé num buraco, o gás há muito se perdeu, da força tudo se
esqueceu e caímos, caímos.
Caímos na vertical, mais noventa
graus que fizemos, atraídos por essa gravidade que nos obriga ao peso de tudo
que falhámos, sem tempo, sem oportunidade de emendar, de pedir socorro, de
alguém ajudar. Quem nos queria ficou para trás, embora continuem a gritar, quem
apanhava migalhas não se arrisca, quem nos puxava larga o fio que nos une,
porque na verdade nunca se importou.
Batemos no fundo, rebentando,
rachando, sangrando dos trambolhões, dos choques, de todas as agressões, os
insultos, as desilusões de quem não brandia interessas, não oferecia ascensões.
Estagnamos, alguns amigos aproximam-se, lambem-nos as feridas, oferecem-nos forças
que eles próprios não têm. Aceitamos sem agradecer, divulgamos arrependimentos,
desculpas, culpamos inocentes da nossa própria ineficácia. Aproveitamos o descanso dos incautos para
conseguir descansar.
E voltamos, agora para a direita,
mais outro angulo igual, mais outra recta escolhida, para depressa chegar onde
está a escada, a corda pendurada para que suba, para continuar a enganar,
estendendo as mãos para receber as esmolas que aos pobres se dão, nas
profundezas, dentro de todas as escuridões que nos violentam, mas escondidos
dos olhos, pequenos que se tornam mais pequenos.
E voltamos a subir, subir, e a
esquerda é outra vez escolhida, a recta a preferida, tropeçamos, caímos guiados
por mais outra gravidade e cá em baixo esquecemos, nada aprendemos, nada
emendamos mergulhados, afogados nos orgulhos das imagens que não são nossas, de
vidas que vendemos.
E repetimos, repetimos, já sem
amigos, já sem respeito pelo corpo que arrastamos….
Rimos, rimos, mesmo que ninguém
nos oiça. Morremos mergulhados numa enorme… estupidez quadrada.
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