A fita de seda vermelha dobrada, guardada na caixa vazia de café.
A folha de papel de embrulho colorida, arrumada na gaveta da cómoda que já teve camisas.
O vestido de renda branca, bordado pelas traças nascidas do tempo.
A trança de cabelo louro que fugiu da cabeça da criança que cresceu.
O segundo do relógio enrolado na corda ferrugenta da viola caída.
O envelope sem nome amarelo, cortado, cheio de selos carimbados.
As pegadas da fotografia do atapetado de um areal, ao pôr-do-sol.
O sonho arrumado numa prateleira, entre as caixas de flocos e uma embalagem de esparguete.
O vermelho de uns lábios quentes, marcados no copo de cerveja.
As cinzas que me cobrem, saídas de um corpo frio lançado ao vento.
O sentimento pisado no almofariz, onde o pilão tem pés de barro.
As botas calçadas nos pés, de pernas que se recusam a andar.
A mulher que perdeu os olhos, a olhar o amor de que cegou.
As palavras da história inacabada, nas páginas de um livro que se inflamou.
O fósforo ardido, caído algures entre o tempo e o sonho.
A cara que nasceu do pó negro riscado, e está pendurada num fio suspenso por este prego.
A vírgula que não ficou e caiu, no meio de uma frase de amor.
O ponto que já não está aqui, mudando o encontro de lugar.
O degrau onde tropecei, mas que mesmo assim continua nesta escada enrolada.
A vida que….
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