domingo, 28 de julho de 2013

Chamo-me Poeta !


O poeta é um mentiroso.

Não conheço nenhum poeta digno de tal nome que não seja mentiroso. Camões, Bocage, Pessoa, Vinícius, Ary, não passam de grandes mentirosos, compulsivamente mentirosos, perfeitos mentirosos que nos enganam em cada palavra, em cada rima dos seus poemas. Só por serem enormes mentirosos lhes foi reconhecido o direito de se chamarem poetas.

O poeta mente com quantos dentes tem na boca, nada do que diz ou escreve é verdade, não pode ser verdade, é impossível que seja verdade, porque não existem amores assim, não existem dores assim, não existem gentes assim, não existem deuses assim, não existem credos assim.

O poeta é mentiroso porque para se ser poeta é preciso amar, é preciso sentir um grande amor, ter um grande amor, ser parte de um enorme e avassalador amor, mas o poeta não ama, sim o poeta não ama, nunca amou, nem nunca amará, porque o poeta é incapaz de amar, o poeta é incapaz de se apaixonar, o poeta é incapaz de dar de si, dos seus sentimentos, porque afinal o poeta nada sente, nada pode sentir, e se sentisse morria.

Mas se o poeta não ama, se é incapaz de tal sentir e, se para se ser poeta é preciso amar, como pode ser então poeta? O poeta não ama, o poeta finge que ama, mente quando diz que ama, fala do amor que sente, escreve sobre o amor que o inflama, mas quando escreve mente e então todo o amor se transforma em mentira, deixa de ser seu, passa para o poema, foge, deixa o poeta sozinho sem amor.

O poeta conta o que vê, ou que pensou ter visto, conta as verdades que lhe mostram, mas as verdades que se mostram são sempre mentiras que pusemos ali para enganar os poetas. E os poetas contam essas mentiras que não são suas, e a essas juntam as suas, as que cantaram no último verso escrito, construindo uma mentira maior.

O poeta não diz nunca a verdade, porque a verdade é dura, a verdade magoa, a verdade dói bem fundo nas almas, e se a verdade inundasse os seus poemas quem os leria, quem quereria enfrentar uma verdade dura e sofrer? Ninguém. E o poeta não pode dar-se a esses luxos de ninguém o querer ler. O poeta adora ser admirado, o poeta adora a adulação, mesmo que a adulação e a admiração sejam mentira, porque afinal o poeta está habituado a conviver com a mentira, porque afinal o poeta é mentiroso.

Mas a verdadeira habilidade do poeta, aquele dom que não é para todos, aquela enorme qualidade que é preciso ter-se para se ser poeta, é a de mentir tão bem, proteger tão bem a mentira, pintar a mentira de cores vivas, inundá-la de luz, conseguir cegar quem visitar os seus poemas, e de tal maneira as mentiras são poderosas, são credíveis, sem falhas, que todos acreditam no que diz.

Sim, não tenho nenhumas dúvidas, estou absolutamente certo de tudo o que disse, o poeta é mentiroso, precisa ser mentiroso, é absolutamente necessário que seja mentiroso para que se chame poeta.

E se todos vocês que aqui chegaram e me leram, e também acreditaram, então…

Chamo-me Poeta!

Sem comentários: