segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

“Chamam-me”


“Chamam-me” Lobo,
Porque não desisto nunca,
Na teimosia, na persistência,
Na perseguição, confundindo-me
Com os cheiros, escondido atrás
Das brisas, percorrendo
As pegadas de quem persigo,
Sem rasto deixar,
Nas marcas invisíveis
Dos passos que não se sentem;
Porque o recuar não é
Fugir, mas apenas tempo
Para que as cicatrizes parem
De sangrar, para que as forças
Se retemperem,
Para que o salto seja maior,
Mais certeiro,
Mais desconcertante,
Mais inesperado,
Mortal.
Dizem-me,
De olhos transparentes,
Porque os olhos convidam,
Sem portas, sem grades,
Sem cadeados, sem fechaduras,
Sem chaves,
Mostrando o caminho
Que encerram…
E quem entra nada vê
De mim, mas encontra-se,
Defronta os seus próprios medos,
Os seus próprios fantasmas,
Reflectidos naquele transparente,
Agigantados, pelos próprios brilhos,
Sombras, trevas,
E perdem-se no labirinto
Que os próprios desenharam.

Sim, “Chamam-me” Lobo
Sem sequer me perguntar,
Sim, dizem-me
Sem sequer me escutar.

#1440

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