quinta-feira, 10 de outubro de 2013

“Desconhecido”


Sempre acabo por passar por ali,
Pela rua, por aquele jardim;
No banco verde, de ripas paralelas,
Comidas pelo sol, onde os dois velhos
Gastavam as horas, olhavam,
Observavam, apoiados nas bengalas
Sem cor, dobrados pelos anos
Nas peles enrugadas, do seu próprio anoitecer.

Pouco ou nada falavam,
Porque não precisavam,
Da companhia antiga que era,
Apenas olhavam e no silêncio
Se entendiam, e no silêncio
Criticavam o que viam.

Dia a dia por eles passava
E sorria; os velhos olhavam
E nada acontecia,
Era apenas um "Desconhecido" que os olhava.

Hoje o banco só sentava um,
Com o seu boné apagado,
A bengala de pau tosco,
O olhar perdido, preso num horizonte
Distante, esperando.

Olhei-o, e dentro dos olhos perguntei,
Inquiri do destino do amigo
Ausente e temi; nada disse
Mas entendi; não mais voltaria
Ali, o lugar que estava livre,
Livre ficaria, mas dele não sentia falta,
Era apenas uma árvore desaparecida,
Engolida pelo tempo, abatida,
De raiz arrancada; as árvores
Não se despedem, as árvores
Não se perguntam, as árvores
Não querem saber.

Um dia ocuparei um daqueles lugares,
E talvez no outro TU te sentes,
Em silêncio, comigo,
Porque não precisamos falar,
Aguardando apenas que os nossos troncos
Façam falta, e nos venham buscar.

#1208

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