domingo, 22 de setembro de 2013

“Branca”


Sobre a mesa, canetas, tampas, lápis,
Borrachas, até um pau de carvão e uma folha
“Branca”, completa, sem nada.
Virei-a, na outra face vazia também, esperando
Pelas palavras, ou que as mãos, o lápis ou o carvão,
A enchessem de traços e sombras, dando-lhe
A utilidade, que “Branca”, não tinha.

Segurei um lápis; vi aquele sorriso que sempre
Me desafiava, as covinhas da face, a boca,
Que tanta vez já traçara.
Mas não, em papel não, só a tela tinha
A nobreza que ao papel faltava.

Escreveria; de todas as canetas, apenas uma
Escrevia; paciência, terás que escorrer o que sinto,
Mostrar-lhe o brilho dos olhos, as notas
Desta melodia.

Olhei a folha; por onde começar,
O que lhe diria em primeiro lugar?

O que sinto? Não, isso não, isso já sabe,
Já o disse, já o escrevi, já o gritei; talvez
O meu sonho, a minha esperança? Mas para quê
Se deles já sabe; conhece também as lágrimas
Que chorámos, como as enxugámos, como nos amparámos.
Sim, ela sabe tudo, o que se falou, o que se gritou,
O que se calou, nos silêncios que os olhos
Desvendaram, nas cumplicidades
Que se criaram.

Dobrei a folha “Branca” em três, vinquei,
Abri o envelope e nele a coloquei,
Humedeci a cola e, fechado o selei.
No envelope escrevi nome e morada;
Vesti o casaco e saí.
No marco vermelho do fim da rua,
A depositei.

Quando a receber,
Lerá o silêncio do “Branco”,
Amando cada palavra que ecoará
Dentro de si.

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