terça-feira, 24 de setembro de 2013

= 1 1 1 1 = A Mulher da Tempestade

Era obrigatório interromper o desafio. Este número é muito especial. De cada vez que se multiplicar, dará sempre números todos iguais. Não sei se alguma vez mais irei conseguir esta proeza; = 2 2 2 2 =; = 3 3 3 3 =; será que vou conseguir? 




A tempestade amainara; o sol fez-se presença, ameaçando mais calor, tingindo tudo de vermelho, sombreando cada duna que se avistava, cada sombra que rastejava. No alpendre, a poeira arrastada pelo vendaval, quase cobria o cavalo negro; quando o Tuaregue levantou a cabeça, que apoiava no seu pescoço, ficou uma mancha brilhante, como se uma nódoa fosse, na ausência do pó, que o resto do pelo cobria.

O Tuaregue ergueu-se e o puro-sangue ao seu lado ficou, como estátua que aguarda restauro, limpeza das pinturas que a vandalizaram. Uma escova surgiu na mão ainda enluvada do Tuaregue, retirada do negro alforge que pendia da sela; com ela escovou carinhosamente o seu alazão negro, com ela devolveu o brilho que lhe faltava, a beleza que se esquecia debaixo de tanto pó.

A porta da casa, que até ali o guiara, abriu-se lentamente, e o que fora visão nocturna, esfumada pelo cansaço, pela areia sibilante, pelo pó que voava, tornou-se deusa, deusa terrena, irrecusável. Trazia com ela, uma caneca de barro fumegante, que ao Tuaregue ofereceu, enquanto a mão o conduzia pelo caminho que antes fizera; a porta fechou-se atrás de quem a atravessara.

O cavalo negro juntou-se à porta e ali permaneceu, quieto, calmo; o cavalo negro sabia, que aquele cavaleiro de turbante azul, que cobria todo o rosto, voltaria; a sua espada de dois gumes, tornaria a pender dos cordões de couro que a ligavam ao cinto, a manta e a sela adornariam o seu dorso, e ambos enfrentariam outras tempestades, venceriam outras batalhas, enganariam outros perigos.

O cavalo negro sabia: Sabia e confiava.

Sem comentários: