Era obrigatório interromper o desafio. Este número é muito especial. De cada vez que se multiplicar, dará sempre números todos iguais. Não sei se alguma vez mais irei conseguir esta proeza; = 2 2 2 2 =; = 3 3 3 3 =; será que vou conseguir?
A tempestade amainara; o sol
fez-se presença, ameaçando mais calor, tingindo tudo de vermelho, sombreando
cada duna que se avistava, cada sombra que rastejava. No alpendre, a poeira
arrastada pelo vendaval, quase cobria o cavalo negro; quando o Tuaregue levantou
a cabeça, que apoiava no seu pescoço, ficou uma mancha brilhante, como se uma
nódoa fosse, na ausência do pó, que o resto do pelo cobria.
O Tuaregue ergueu-se e o puro-sangue
ao seu lado ficou, como estátua que aguarda restauro, limpeza das pinturas que
a vandalizaram. Uma escova surgiu na mão ainda enluvada do Tuaregue, retirada
do negro alforge que pendia da sela; com ela escovou carinhosamente o seu
alazão negro, com ela devolveu o brilho que lhe faltava, a beleza que se
esquecia debaixo de tanto pó.
A porta da casa, que até ali o
guiara, abriu-se lentamente, e o que fora visão nocturna, esfumada pelo
cansaço, pela areia sibilante, pelo pó que voava, tornou-se deusa, deusa
terrena, irrecusável. Trazia com ela, uma caneca de barro fumegante, que ao
Tuaregue ofereceu, enquanto a mão o conduzia pelo caminho que antes fizera; a
porta fechou-se atrás de quem a atravessara.
O cavalo negro juntou-se à porta
e ali permaneceu, quieto, calmo; o cavalo negro sabia, que aquele cavaleiro de
turbante azul, que cobria todo o rosto, voltaria; a sua espada de dois gumes,
tornaria a pender dos cordões de couro que a ligavam ao cinto, a manta e a sela
adornariam o seu dorso, e ambos enfrentariam outras tempestades, venceriam
outras batalhas, enganariam outros perigos.
O cavalo negro sabia: Sabia e
confiava.
Sem comentários:
Enviar um comentário